Promotor do Belamar Complexo contempla hipermercado, ginásio, hotel, habitações e lojas, arrancou com obra, mas não será dono de todo terreno. Administrador diz que vai averiguar.
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Arrancou há menos de um mês e já está parada. A Câmara de Vila do Conde embargou a obra do Belamar Complexo. O megaempreendimento que ia nascer à entrada da cidade, nos terrenos da antiga conserveira Belamar, estava a ser erguido parcialmente em terrenos da autarquia. A Câmara confirma o embargo. A empresa lembra que o Belamar será "dinamizador para o concelho" e "promotor de centenas de postos de trabalho" e, por isso, espera que o embargo possa ser retirado "muito em breve".
"Fomos surpreendidos quando, integrada no projeto, está incluída uma parcela que é do município. Não me restou alternativa senão embargar a obra", explicou, ao JN, o presidente da Câmara, Vítor Costa. O terreno em causa - pouco mais de 400 metros quadrados (m2) - é "domínio privado municipal" e resulta de uma cedência, aquando da construção do empreendimento Cidade Nova e da abertura da Rua António Sérgio, concluídas há mais de 20 anos.
"Acho isto estranhíssimo. Irei apurar responsabilidades até às últimas consequências. É mais uma trapalhada", afirmou ainda o edil, estupefacto com a aprovação, sem que "ninguém tenha reparado", de um projeto que estava a ser edificado em terrenos que não só não eram do promotor, como eram da autarquia.
Vítor Costa faz questão de frisar que nada o move contra o promotor, mas, acima de tudo, tem "a obrigação de defender os interesses dos vila-condenses". Depois de 72 anos a laborar em Vila do Conde, a conserveira Belamar, propriedade da família de Valentim Loureiro, fechou as portas em 2017. Os terrenos foram comprados pela construtora José Castro & Filhos (JCF), mas a pequena parcela municipal, no gaveto da Rua António Sérgio com a EN13, permaneceu nas mãos da Câmara.
20 mil metros quadrados
O Belamar Complexo nasceu pouco depois, num projeto da Ventura + Partners. Contempla um hipermercado, ginásio e, num terceiro edifício de rés do chão e quatro andares, um hotel com cerca de uma centena de quartos, 36 apartamentos e uma dezena de lojas.
São quase 20 mil m2 de terreno junto à rotunda "dos Benguiados", num quarteirão delimitado pela EN13, acesso à A28, metro e Rua António Sérgio.
De acordo com a planta da JCF, na parcela municipal ficaria uma pequena parte do Auchan e o estacionamento à entrada do hipermercado. Apesar disso, o projeto foi aprovado em fevereiro de 2021 e a Câmara deu "luz verde" à obra.
Já com os trabalhos no terreno, a velhinha Belamar demolida e o terreno da Câmara vedado pela JCF, chega, agora, o embargo.
"Se foi entendido pelo município que os trabalhos que estiveram a ser executados extravasaram as autorizações administrativas existentes, naturalmente vamos averiguar junto das entidades executantes e de imediato repor a legalidade", afirmou o administrador da JCF, Nuno Castro.
Sim ou não?
Revolução à entrada da cidade
Desde a apresentação do Belamar Complexo, as opiniões dividem-se. O presidente da Câmara gostaria que o projeto fosse discutido com a população. "É uma zona nobre, a última entrada da cidade que não estava consolidada em termos urbanísticos", frisa Vítor Costa. Quando chegou à Câmara, em setembro, já tudo estava aprovado e a obra irá "mudar por completo" um dos principais acessos à cidade.
A reter
Investimento
A JCF não adianta valores, mas o empreendimento irá custar vários milhões. É o maior investimento privado em curso no concelho e um dos maiores na Área Metropolitana do Porto.
Trânsito preocupa
A zona, de acesso à A28, metro e estádio e no cruzamento com a EN13, preocupa em termos de trânsito.
Engrandecimento
Para a JCF, o Belamar "engrandece uma das entradas de Vila do Conde, trazendo uma nova luz e dinamismo". Admite que o edifício principal é "disruptivo e impactante", mas, no final, tornar-se-á "um símbolo arquitetónico".