Na manhã desta terça-feira, a Polícia Municipal do Porto selou mais de 100 espaços do Centro Comercial Stop, por falta de licenças de utilização, o que afetou sobretudo os músicos que ali tinham estúdios de gravação e salas de ensaio. A Câmara diz que "isto era o cenário que ia acontecer mais dia, menos dia".
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"Ninguém pode dizer que não estava a contar", afirmou o vereador da Economia, Ricardo Valente, contrariando a versão dos lojistas, em particular os músicos.
O centro comercial continua aberto, agora só com 21 lojas - as que têm licença -, num total de 126. Foram seladas 105, o que afetou também diversos ramos de atividade, como vendas online, artigos de decoração, reiki e cafetaria. Segundo Rui Guerra, da Associação Cultural de Músicos do Stop, os espaços em causa pertencem a mais de 90 proprietários e o encerramento afeta quase 500 músicos. A associação agendou uma reunião para o final da tarde, enquanto outros músicos se manifestaram à porta do Stop.
"Foi um choque completo", disse ao JN Bruno Costa, ainda incrédulo com o que tinha acabado de acontecer de manhã. Inquilino e responsável por uma sala de ensaios frequentada por três bandas, referiu que "não havia indicação nenhuma" quanto à selagem das lojas. "Se o edifício encerrar ou se a maior parte das salas ficar com acesso interdito, estamos a falar de centenas de projetos, entre bandas e artistas, que ficam sem espaço para o seu trabalho", acrescentou.
O também presidente da associação Alma Stop afirmou ao JN que a questão da licença "é tratada normalmente pelos proprietários" dos espaços. "Eu sou arrendatário da sala, não sou proprietário", concluiu, dizendo que essa é a realidade da maioria dos músicos.
Mariana Costa, que há 13 anos está à frente de um estúdio, estava indignada pela falta de aviso mas também pelo facto de, na altura em que a operação decorria, não ter tido acesso aos seus bens. "Não estão a deixar-nos tirar o material", afirmou.
A esse propósito, o comandante da Polícia Municipal, António Leitão da Silva, explicou ao JN que, depois de seladas, as lojas só poderiam ser reabertas a pedido dos visados e na presença de elementos daquela polícia, o que aconteceu já da parte da tarde.
Rui Santos, gerente de um café, lamentava-se também por não ter sido avisado. Afirmou ter participado em várias reuniões com a Câmara e que o presidente, Rui Moreira, disse para os lojistas "não se preocuparem, que isto era um sítio muito cultural". Acrescentou que a Autarquia "nunca deu uma alternativa".
Em fevereiro, Rui Moreira afirmou em reunião de Câmara que tinha sido proposto aos músicos e à administração do centro comercial que ocupassem os andares superiores do silo auto. "Disseram-nos que não queriam, que não lhes interessava porque querem continuar no Stop", referiu então o autarca.
Em comunicado enviado à Imprensa nesta terça-feira, a Câmara do Porto salienta que "este é um processo que se arrasta há mais de dez anos, tendo o Município vindo, ao longo do tempo, a acumular queixas por parte da vizinhança". A isto, o vereador Ricardo Valente acrescentou que o Município "não podia correr o risco" de permitir que o Stop continuasse a funcionar "sem as mínimas condições de salvaguarda de segurança de bens e, sobretudo, de pessoas".
Em outubro, o JN dava conta dos problemas estruturais do Stop. No início deste ano, a Autarquia indicava falhas no cumprimento dos requisitos previstos no Regime Jurídico da Segurança contra Incêndios em Edifícios.
Ferreira da Silva, administrador do Stop, lembrou nesta terça-feira que chegou a haver um projeto para se fazer as necessárias obras, mas faltou dinheiro.