Lutar contra a monocultura do eucalipto é uma das prioridades do Município de Valongo, que finalmente alcança a classificação das serras de Santa Justa e Pias como Área Protegida de Âmbito Local. A eventual saída da Portucel daquela área seria uma boa notícia.
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O grupo Portucel Sopercel, um dos maiores produtores mundiais de papel e pasta de eucalipto, gere actualmente cerca de 800 hectares de terreno no concelho de Valongo, entre terras próprias e arrendadas. Destes 800 hectares, à volta de 400 situam-se dentro da área em vias de ser classificada e que abrange 1070 hectares.
O vice-presidente da Câmara de Valongo, João Paulo Baltazar, elogia a boa prestação ambiental da Portucel, assim como a "postura colaborativa" com o Município, mas admite não ser um tipo de indústria compatível com um processo de qualificação ambiental.
"A longo prazo, o nosso desejo é que tudo o que temos lá [nas serras de Santa Justa e Pias] de eucaliptos seja substituído por floresta autóctone. Naturalmente, com respeito por quem lá fez um investimento. Este é um caminho de um só sentido", referiu, ao JN, João Paulo Baltazar. "É uma área onde vão ter que repensar o negócio, sem sombra de dúvida. Se quiserem sair de lá, essa para nós é a melhor opção", admitiu.
O JN tentou ontem, sem êxito, falar com algum responsável do grupo Portucel Soporcel sobre a matéria.
Da sessão da Assembleia Municipal de ontem à noite que votaria a proposta de classificação, aprovada recentemente pelo Executivo, após longo processo de preparação, esperava-se uma aprovação unânime. A concretizar-se - a votação ocorreu depois a hora do fecho desta edição - inciar-se-á uma nova fase, com a elaboração do regulamento que define o tipo de utilização permitida nos 1070 hectares da nova Área Protegida de Âmbito Local.
Foi uma mudança na lei, em 2008, que conferiu aos órgãos deliberativos de cada município o poder de promover, por si mesmos, a criação de zonas do seu território como áreas protegidas de interesse local ou regional. Tal classificação confere às autarquias o poder de gerir aquelas áreas, tomando decisões sobre matérias como o regime de exploração do solo.
Com os concelhos vizinhos por onde a mancha verde se prolonga a encarar a protecção da serra a ritmos diferentes, Valongo optou por avançar sem eles. Este ano, houve reuniões com Paredes e Gondomar para alinhar intenções. "Há uma vontade clara de dar um pontapé de saída nisto", afiança João Paulo Baltazar.
Mas havia um cansaço de 20 anos a agir com poderes limitados. Se Paredes e Gondomar decidirem entrar na classificação, é preciso criar um nível superior de gestão, com a criação de dois órgãos, consultivo e executivo, e um orçamento próprio.
"Implica um trabalho de campo que ambas as autarquias estão agora a começar e que iremos acompanhar de perto", referiu.
Para já, só Valongo sabe ao certo o que pretende: acabar com a praga dos eucaliptos, limitar o uso das serras a lazer e desportos de natureza, tentar orientar as construções vazias da aldeia de Couce para o turismo.
Um centro de investigação e uma pousada para cientistas - desde há muitos anos, os mais interessados visitantes das serras com várias riquezas naturais -, um parque de bungalows, balneários e estacionamentos periféricos são projectos para o local.
A Câmara procura, já há alguns meses, investidores interessados. Neste momento, há uma empresa que quer instalar um slide com dois quilómetros e procura a melhor zona para o fazer.