Decisão da Autarquia de Mafra não teve em conta investimento de utentes em "mobile homes", vendidas até dezembro e que serão retiradas até fevereiro. Cerca de 400 campistas contestam decisão e reúnem para tomar medidas.
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O Parque de Campismo da Ericeira, o Ericeira Camping, vai encerrar. Os 400 utentes dizem-se perplexos, dado que, até ao início deste mês, a empresa municipal que gere o parque, Giatul, promoveu a venda no espaço de casas modulares (pré-fabricadas) no valor de 30 mil euros. A decisão foi tomada pela autarquia de Mafra, no passado dia 7, dia em que a Giatul foi informada do fecho. Este domingo, os campistas reúnem com os advogados para decidir se avançam ou não para tribunal.
A promoção da venda das "mobile homes" esteve na página do parque até aquela data e agora, os utentes foram informados que têm de retirar os seus pertences até ao final de fevereiro sem que alguns tenham sequer recebido as casas. De acordo com um documento apresentado pelos campistas e a que o JN teve acesso, contabilizam-se 78 casas pré-fabricadas adquiridas pelos utentes desde 2005 a uma empresa de Loures que a Giatul indicava para a aquisição do modelo autorizado. A última foi instalada em novembro e houve até quem tenha contraído empréstimo para comprar outra em dezembro.
Os utentes já contactaram com advogados para reagir ao encerramento. Este sábado, houve a primeira reunião para a entrega de documentos e este domingo, serão discutidas formas de luta, entre elas o recurso aos tribunais. Em cima da mesa estará a entrada de uma providência cautelar contra a decisão do fecho. Os contestatários alegam que não podem ser despejados desta forma, que têm que ser notificados com prazo de três meses e que há pessoas a morar no parque de campismo, sem residência alternativa.
A Autarquia de Mafra quer criar no espaço o Parque Urbano Verde da Ericeira. Contactado pelo JN, o presidente da Câmara, Hélder Silva, remete para o comunicado publicado na página do parque de campismo, onde se lê que a empresa municipal gestora foi informada do encerramento no dia da decisão do executivo e que, assim, teve que informar os utentes para retirar pertences até fim de fevereiro.
Sem responsabilidade
Sobre a promoção da venda de "mobile homes" para instalação no parque, a Autarquia recusa qualquer "responsabilidade moral" na promoção da venda quando estaria para breve o encerramento. Ainda sobre a permanência de pessoas que vivem no local e ficarão sem abrigo quando o parque fechar, o Município aponta para o mecanismo de resposta social que têm ao dispor para estes casos.
Marco Cavaco, utente do parque de campismo, que frequenta durante os fins de semana há sete anos e que tem lá instaladas duas autocaravanas, diz que "a Autarquia está a tratar os utentes como lixo" e que está "a ser o nosso carrasco". O campista, de 48 anos, residente em Sintra, foi surpreendido com a decisão do encerramento, sem que nada o fizesse prever.
A mesma opinião tem Aurora Fonseca, utente há dez anos. Afirma que "a empresa Giatul não está a falar com ninguém" e que apenas notificou os campistas "para retirar as coisas e mais nada".
O JN entrou em contacto com a Giatul no sentido de obter esclarecimentos sobre o caso, mas não obteve respostas.
