Canário nas escolas do Alto Minho: "Cantar ao desafio agora é de arrasar"

"De repente canta a gente, é um projeto de encantar /Eu adoro este projeto, porque aprendemos a cantar/Vamos todos fazer quadras, vamos todos cantar /Antes até era chato e agora é de arrasar".

As quadras improvisadas pelos alunos de Manuela Marques, professora de Educação Musical, que dá aulas a turmas dos quinto e sexto anos, na EB da Abelheira, Viana do Castelo, resumem a iniciativa que por estes dias está a pôr a cantar jovens do Alto Minho ao lado de repentistas conhecidos do público.

Augusto Canário é "o padrinho" do projeto "De repente, canta a gente", que percorreu escolas (60 sessões) a lançar sementes para o futuro da arte da desgarrada. Desse trabalho, que envolveu cerca de 200 alunos, resultou um ciclo de dez concertos, um por cada concelho da região, que está a decorrer desde 10 de outubro até 21 de novembro.

"Os meninos não tinham nenhum tipo de vivência relacionada com o repentismo. Inicialmente não acharam graça, mas depois entusiasmaram-se. É curioso", comentou Manuela, referindo que os ensinamentos de Canário e os vídeos de canto repentista que depois mostrou aos alunos, abriram caminho ao gosto pelos cantares ao desafio.

Augusto Canário, cantador e tocador de concertina, explica que a ideia é "desenvolver novos públicos e cativar talentos", entre os alunos dos 9 aos 11 anos nas escolas do Alto Minho. No trabalho de campo, a adesão das novas gerações não foi imediata, mas deu-se.

Facilidade em rimar

"O processo é um bocadinho complicado. No meu tempo escrevíamos muitos versos. Não havia muitos divertimentos, nem telemóveis e jogos. Hoje as atenções estão centradas noutras coisas", referindo, notando como positiva "a facilidade que os miúdos têm para rimar", diz.

"Agora o que precisamos é trabalhar o gosto pela tradição. Foi preciso juntar, por exemplo, o beatbox (percussão vocal do hip-hop) e dj"s que introduzem um som moderno, porque o repentismo também está nessas formas, para os cativar", acrescentou.