Ao meio-dia em ponto do dia 5 de dezembro de 1996, o som do carrilhão da Torre dos Clérigos ecoou no Porto. "A zona histórica de um dos berços da nacionalidade foi reconhecida como Património Mundial", escreveu o "Jornal de Notícias".
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Já na altura, e apesar do orgulho na classificação, eram vários os comerciantes e moradores que diziam que a cidade "não pode ser apenas encarada como um destino turístico". "O património somos nós, as pessoas. Nós é que representamos Portugal", criticou Maria de Lurdes, à data vendedora no mercado de Levante da Ribeira. O título foi, para José Pereira, "uma honra", mas deixou, na altura, um alerta: "Deve ser acompanhado de medidas para limpar a zona histórica. Modernizem o comércio, estejam em constante diálogo com quem aqui vive porque, a partir daqui, a responsabilidade aumenta".
O mesmo considerou Gomes Fernandes, "o ex-número dois de Fernando Gomes, e um verdadeiro número um em todo o trabalho desenvolvido, durante muitos anos, para que o Porto histórico fosse reconhecido como Património da Humidade". Aliás, o arquiteto afirmou mesmo que o título da Unesco é "um brasão que traz responsabilidades, em vez de dinheiro".
"Ainda não era uma hora da madrugada no Porto (menos seis horas no México) quando a Assembleia Geral da Unesco tomou a decisão final. Com uma votação por unanimidade, o Porto passou a fazer parte, de pleno direito, das cidades classificadas como Património Mundial. Fernando Gomes, desde domingo no México a acompanhar a reunião, telefonou de imediato para o Porto dando a boa nova", escrevia o JN Entre as "joias da coroa", o jornal destacou a "Sé Catedral, a Igreja dos Grilos, a Casa da Câmara, as muralhas, a Igreja de Santa Clara, a Casa do Beco dos Redemoínhos, a Igreja dos Clérigos, da Misericórdia e de S. Francisco, e ainda a Ponte Pênsil, da qual já não sobram mais do que os seus pilares".
Jorge Sampaio, à data presidente da República, manifestou a sua "grande alegria e regozijo" pela classificação, seguindo-se o primeiro-ministro da altura, António Guterres. "Se o Porto e todos os seus habitantes bem merecem este reconhecimento mundial, o presidente da Câmara Municipal, pelo grande empenhamento que teve no projeto, pela dedicação, pelo trabalho e pelo amor de todos os dias a cidade Invicta, merece uma especial saudação", afirmou o governante. Também os músicos Rui Veloso e Pedro Abrunhosa, nascidos no Porto, felicitaram a cidade pela conquista.