No primeiro ano, ala do hospital no Porto contabilizou 3500 internamentos e mais de 2000 cirurgias. Eunice Trindade, diretora do serviço, reconhece que mudança "valeu a pena" e elogia papel ativo de parceiros e mecenas.
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Dizem que o último ano "passou à velocidade da luz", admitindo que foi preciso um esforço acrescido dos profissionais da Ala Pediátrica do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) para se adaptarem ao novo edifício. E ainda que considerem que os anos em que o serviço funcionou em contentores tenha sido "uma longa espera", preferem sublinhar que "valeu a pena". No primeiro ano, a nova Pediatria contabilizou 3500 internamentos e mais de 2000 cirurgias. Ainda que tenham de lidar diariamente com a falta de gente.
Mesmo com uma taxa de ocupação "sempre no limite, com muitos doentes e imenso movimento", Eunice Trindade, diretora da Pediatria, desabafou ao JN que "foi um ano fantástico", apesar de isso ter "obrigado a uma adaptação a um espaço novo, com uma dimensão completamente diferente" a que estavam habituados. Um "processo de adaptação", segundo a profissional, em que "todos" fizeram "um esforço para esquecer o momento mau" de terem trabalhado nos contentores do "Joãozinho".
Por isso, vinca que tem de "fazer um agradecimento aos pais, às famílias e às crianças, porque num momento muito difícil, e apesar das más condições, nunca deixaram de preferir" aquele serviço.
Na "casa nova", que permite que "as famílias possam estar com qualidade", Eunice Trindade descreve que "a cereja no topo do bolo é a nova área lúdica, que permite que as crianças tenham uma experiência mais fácil".
Elogia ainda a ação dos "parceiros e mecenas", que contribuíram recentemente para implementar "a visita à Ala Pediátrica de cães com fins terapêuticos".
Ao quinto dia de internamento por conta de uma pneumonia, Zara, 12 anos, de Águas Santas, Maia, não vê a hora de ir para casa, mas assume que a nova Pediatria "é como um hotel". Quando estava com dores "era horrível, mas agora, como já estou melhor, posso sair e fazer atividades e acaba por ser melhor, o tempo passa mais rápido", explicou.
Atenção e carinho
Passado o susto, também a mãe, Esmeraldina Teixeira, revela que está "extremamente agradada". "Além das condições serem boas, são extremamente atenciosos e carinhosos. Isto teve uma melhoria mas não foi de 100%, foi de 200%".
Francisco Mendes, enfermeiro encarregado de gerir os recursos humanos e de materiais na área da enfermagem e dos assistentes operacionais, ouve o desabafo e sorri. "A grande diferença é exatamente essa: as condições da estrutura são completamente diferentes e o impacto que provocam nos profissionais, mas também nos utentes são radicais", explica. E acrescenta: "As paredes são fundamentais, mas o que conta verdadeiramente é o trabalho dos recursos humanos. E com estas instalações, os recursos humanos conseguem desempenhar o seu papel de forma mais efetiva".
Já para Anabela Pinto, assistente operacional há 16 anos, "o último ano foi bastante complicado", devido aos "poucos recursos humanos". "As instalações são boas, mas a nível de recursos humanos é muito complicado", desabafou a funcionária, dando conta de que "são oito e seriam preciso pelo menos mais quatro". Questionada sobre o assunto, Maria João Baptista, recém-nomeada presidente do Conselho de Administração, admitiu que o hospital precisa "transversalmente de reforçar quadros".
Se ainda tenho a minha menina, devo-o a esta Neonatologia
Há um ano, Beatriz foi a primeira criança a ficar internada na nova Ala Pediátrica do S. João.
Beatriz tinha pouco mais de um mês quando entrou para a história do Hospital S. João, no Porto, ao ser a primeira criança a ficar internada na nova Ala Pediátrica, depois dos anos em que o serviço funcionou em contentores. A menina tinha um problema de saúde, surgido ao segundo dia de vida, no Hospital de S. Sebastião, na Feira, e foi levada para o Porto, onde lhe foi reconstruído o intestino.
A mãe, Maria dos Anjos Duarte, não esconde a emoção quando, após um ano, recorda esses "dias difíceis", longe da família, mas "em que todos, sem exceção", incluindo pais de outras crianças internadas, a fizeram sentir "como parente".
"Parece ridículo contar isto, mas três dias depois de a minha filha ter sido operada, teve alta e, ao fim de quase dois meses a viver em hospitais, chorei de emoção ao despedir-me de toda a equipa, que nos tratou tão bem", recordou.
Tanto que quando precisa de voltar ao S. João para as "consultas de rotina" de Beatriz, Maria dos Anjos sente que está a "voltar a casa". "Graças a Deus, se hoje tenho a minha menina devo à Neonatologia do Hospital S. João", desaba.
Depois da angústia desses dias, Maria dos Anjos contou ao JN que "os pais dos bebés que estavam há um ano na Neonatologia ficaram todos amigos", mantendo contacto através do Facebook. "Vamos combinar um almoço", contou.
Bem-disposta e decidida
Já sobre a menina que nasceu a 3 de outubro "às três da manhã", a mãe referiu que está agora "com 13 meses" e já revela ser "muito bem-disposta e decidida". "Os médicos aconselharam-me a não colocá-la logo no infantário, para não apanhar viroses, e só no próximo mês é que vai", disse Maria dos Anjos, convicta de que nessa altura o coração "vai apertar um bocadinho".