Crianças e jovens da Pediatria do IPO encontram-se regularmente em campo graças à iniciativa de um voluntário e antigo treinador. São os Resistentes.
Corpo do artigo
À baliza ou noutras posições em campo, há um grupo de crianças e jovens no serviço de Pediatria do IPO-Porto que tem muito mais em comum do que lutar contra o cancro. São Resistentes. Assim, com letra maiúscula, não só, como todos os outros, pelo que enfrentam no combate à doença, mas também porque essa é a designação de um projeto que surgiu há dez anos e continua a somar vitórias em torno do futebol.
O mentor dos Resistentes não perdeu tempo. No primeiro dia como voluntário da Liga Portuguesa contra o Cancro naquele serviço do IPO, pensou que podia fazer alguma coisa "no sentido desportivo". Não só fez, como conseguiu juntar doentes e famílias que não se conheciam e que agora são amigas.
É Alberto Nogueira, homem dos seus 73 anos e com uma vida inteira dedicada à formação de jovens futebolistas. Hoje, são cerca de 200 os rapazes e raparigas que fazem parte do projeto. Encontram-se regularmente no Porto e noutras cidades e, em cada convívio, está sempre garantido um jogo com uma equipa local.
"É uma atividade desportiva cuidada e articulada com a parte clínica", garante. Alberto Nogueira conta ainda que "elas, as meninas, estão cada vez mais na mó de cima", em termos de adesão ao grupo.
Que o diga Inês Pereira, que está há dois anos em tratamento. Embora a leucemia não lhe permita ainda voltar em pleno à canoagem, modalidade que fez dela uma atleta federada, Inês é guarda-redes nos Resistentes. Fora do campo, concilia os estudos em Gestão, na Universidade do Minho, com notas de fagote, que toca desde criança.
"No meio do mal, vim parar ao meu mundo", refere a jovem de 19 anos e residente em Ponte de Lima, numa alusão ao serviço de Pediatria, em que dá muito de si aos mais pequenos. "A atividade física sempre foi bastante importante e, para nós, ainda mais", diz, acrescentando que focar-se no desporto ajuda "a não pensar no que está em redor", ou seja, em tudo o que a doença lhe provocou.
Fanáticas pelo FCP
Naturalmente, nem todos podem jogar. É o caso de Nini, portuense de 17 anos, que depressa encontrou a grande afinidade que tem com Inês: "Somos ambas fanáticas". Pelo F. C. Porto, entenda-se, clube que está entre os amigos do projeto.
Na Pediatria, comentava-se que havia duas fervorosas portistas que não se conheciam. Nini estava no isolamento, mas logo tratou do assunto, com a ajuda de uma enfermeira: primeiro um bilhete, depois a troca de números de telemóvel e, por fim, o encontro entre ambas. Onde? No estádio do Dragão.
Voltemos a Alberto. É que o obreiro do projeto faz de tudo para que qualquer elemento do grupo assista aos jogos oficiais, independentemente da equipa. Por isso, está grato a muitos clubes.
Dez anos
O pavilhão Multiusos de Gondomar recebeu, neste domingo, às 15 horas, a gala que celebra dez anos dos Resistentes. A música e a dança estão em destaque e a entrada é livre.
Uma das vertentes do projeto é o apoio social às famílias de crianças e jovens carenciados, como a distribuição de cabazes alimentares e a atribuição de bolsas de estudo, do 1.º ciclo ao ensino superior, no ano letivo que agora começa.
A grande ambição é ajudar na investigação do cancro pediátrico. Ronaldo, Pepe, Bruno Alves e ainda Paulo Bento, então selecionador nacional, foram os primeiros padrinhos do projeto.