Bruno Vasconcelos, 43 anos, e Irina Freitas, de 45, vivem desde o passado dia 13 de dezembro no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia. Ambos desempregados e sem qualquer tipo de rendimento dizem que só querem ter uma oportunidade de trabalho, que lhes assegure o alojamento.
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O casal, junto há quatros anos, vivia na casa da avó de Irina, em Perafita, Matosinhos. Mas após a morte da idosa seguiu-se um processo de partilhas dos herdeiros e foram obrigados a sair da habitação.
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Sem qualquer retaguarda de familiares ou amigos, Bruno contou ao JN que a solução do aeroporto "foi a primeira opção" que lhe veio à cabeça. "Dormirmos na rua estava fora de questão e aqui sempre é mais quentinho", explicou.
É numa zona mais resguardada das partidas, no terceiro andar do aeroporto, que Bruno e Irina pernoitam, deitados nuns bancos. "A partir da meia-noite, as luzes são apagadas e o ambiente fica sossegado. Para além de que aqui nos sentimos seguros", referiu Irina.
Já a higiene pessoal é feita "como podem" nas casas de banho do aeroporto, sendo que o pior nesta altura de inverno "é a água fria", comentou o casal.
Foi, inclusive, no aeroporto que os dois passaram o Natal e o Ano Novo: "Foram dias de muito choro, de muita tristeza, mas há que levantar a cabeça e acreditar que tudo vai melhorar", desabafou Bruno, emocionado.
Com a ajuda da rede móvel do aeroporto, Bruno, que já trabalhou numa fábrica de produção alimentar e como servente de obras, passa o dia a responder a ofertas de emprego, mas apesar de se mostrar disponível para fazer "qualquer coisa seja onde for", ainda "não apareceu nada em concreto", contou, desiludido.
Já Irina tem experiência "a cuidar de idosos, a trabalhar em cozinhas e nas limpezas".
É dentro de uma mala de viagem vermelha que Bruno e Irina guardam tudo o que têm ("sobretudo roupas e documentos") e, diariamente, vai-lhes valendo a solidariedade de alguns passageiros, que lhes oferecem comida. Porém, confessam que já houve dias em que passaram fome.
Bruno e Irina contaram que, há dias, uma passageira, "sensibilizada" com a história dos dois, pagou-lhes "uma noite no campismo de Angeiras". Mas Bruno diz que "ainda não perdeu a esperança de arranjar um trabalho".
"Recuso tratar dos papéis para recebermos o Rendimento Social de Inserção, porque aquilo que queremos é voltar a ter um trabalho, de preferência com direito a alojamento, para conseguirmos voltar a estabilizar a nossa vida e dar uma vida estável aos nossos meninos", referiu. O casal tem um filho de três anos e Irina uma menina, de 12, que foram entregues a familiares por ordem judicial.
O JN pediu esclarecimentos à Câmara de Matosinhos e à Segurança Social, estando a aguardar resposta.