Moradores do Bairro S. João de Deus, no Porto, queixam-se das habitações novas, que foram feitas com "materiais fracos". Projeto de reabilitação está nomeado para galardão de arquitetura.
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Vai fazer dois anos em junho que Carla Guedes se mudou para a casa nova no Bairro S. João de Deus, no Porto. Mas, "logo passados uns meses, começaram os problemas" provocados pela humidade. Na casa da mãe de Manuela Santos, "a água que escorre das janelas está a apodrecer os rodapés". E na de Rosa Sousa, de tanto limpar os bolores, já há um buraco na parede. Ainda assim, o projeto de reabilitação do bairro está nomeado para um prémio de arquitetura internacional.
O JN questionou a Câmara do Porto sobre os problemas e sobre a segunda fase da reabilitação do bairro. A Autarquia referiu que a segunda fase, no valor de aproximadamente 2,16 milhões de euros, começou em novembro e deverá demorar um ano, incluindo a reabilitação de 24 fogos e uma nova habitação com dois pisos. Sobre as queixas dos moradores, nada disse.
Os residentes não escondem a revolta. "Além de me terem posto um filho a dormir na sala, porque me devia ter sido atribuído um T4 e deram-me um T3, mal abri a porta da casa reparei que um dos vidros tinha furos de bala. Já as escadas só têm uma guarda de segurança e, nos primeiros tempos, morria de medo que o meu filho, na altura com sete anos, ainda caísse", queixou-se Carla Guedes. Todavia, para a moradora "o problema maior são as humidades, que estão por toda a casa: da sala, à cozinha, passando pela casa de banho e quartos". Na empresa municipal Domus Social, onde já reclamou, Carla diz ter ouvido que o problema deve-se "às condensação das casas e que o melhor que poderia fazer era tirar fotos e enviar e, a seguir, limpar".
Mas a residente reitera que "o problema não é esse", até porque "com frequência" mantém portas e janelas abertas.
"roupa toda húmida"
Da mesma situação se queixa Manuela Santos, 56 anos, que é cuidadora da mãe. Rente ao chão vai pondo panos a amparar a água que entra pelas molduras das janelas, e lamenta "a qualidade dos materiais que foram usados". "Nas casas antigas as divisões eram pequenas, mas não tínhamos humidades. Aqui, quando se pega na roupa de manhã, está toda húmida".
Também Rosa Sousa, 70 anos, reclama "dos materiais com que foram feitas as casas, que são fracos". "Atrás dos móveis é só bolor e para abrir a porta da entrada, como está inchada, é só ao murro. Já nas janelas dos quartos, o meu filho teve de colocar silicone. Isto já para não falar no pavimento da cozinha que está todo aos papos", acrescentou.
PRÉMIO
Projeto acaba com estigma do bairro
Dos 19 projetos portugueses nomeados para o Prémio da União Europeia para a Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe, cinco ficam no Porto e outros três têm assinatura portuense. Entre os candidatos está a obra de Nuno Brandão da Costa, que converteu o Bairro S. João de Deus em 96 novas casas para os moradores e afastou o local do estigma de outros anos. Instituído em 1988, o Prémio Mies van der Rohe foi ganho na 1.ª edição por Álvaro Siza, com o edifício Borges & Irmão, em Vila do Conde.