A arquitetura singular do Porto desperta curiosidade de turistas pelas suas dimensões e muitos, além de fotografar, pedem para ver por dentro. A reabilitação tem respeitado os projetos iniciais.
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É o colorido dos edifícios aquilo que, à primeira vista, desperta o olhar de quem chega ao Porto. Mas um olhar mais atento descobre algumas singularidades de uma arquitetura única, muitas vezes engenhosa, feita em pouco mais de dois metros de largura. Na cidade há muitas casas estreitas, nas quais o espaço não é problema.
"Ainda há dias, um casal de estrangeiros pediu para ver a minha casa, porque a achava fora do normal, por ser tão estreita. Depois, quando a viram por dentro, ficaram admirados", contou ao JN Olga Carmo, 74 anos, que vive em Miragaia desde que nasceu.
O segredo da casa - idêntica a tantas outras ali, na Zona Histórica do Porto - é que, embora vista de fora pareça apertada, no interior descobrem-se divisões amplas, "feitas ao comprido", uma vez que o edifício tem frente e traseiras.
Outra das particularidades que Olga mostrou é a organização das divisões por pisos: "No 1.º andar, é a sala de estar e de jantar virada para a frente, cozinha e WC para as traseiras; já no 2.º andar, são os quatro quartos". Olga diz, inclusive, que um dos compartimentos é usado só "para se vestir". Ou não vivesse ela "à vontadinha".
E se dúvidas houvesse quanto à abundância de espaço, revelou que no Natal e na Páscoa chega a juntar "12 a 15 pessoas à mesa".
As obras de reabilitação que estão a ser feitas um pouco por toda a cidade têm vindo a manter esta particularidade. Tiago do Vale, arquiteto especialista em reabilitação, confirmou ao JN que "muitas vezes" veem-se os projetos "a chegar às mesmas soluções otimizadas [de uma divisão por piso] que eram utilizadas em edifícios antigos".
Escadas dividem casas
Aliás, no Porto, há vários exemplos: edifícios estreitos à nascença, que acabaram por ter apenas reabilitação interior, com as comodidades dos dias de hoje.
Na Praça Almeida Garrett, em frente à Estação de S. Bento, um desses imóveis parece "espremido" entre a grande volumetria de um hotel e o resto do casario. Na Rua de Miragaia - onde a reabilitação avança em força -, outra casa do género está a passar por obras e a fachada foi mantida.
Já na Rua da Assunção, nos Clérigos, Fátima Meira, que está à frente da retrosaria que durante muitos anos foi o negócio da mãe, referiu que "vê muitos turistas a tirar fotos ao edifício", mas que "nunca" se tinha apercebido que a sua atratividade "era ser estreito".
Do imóvel onde vivem dois irmãos, a lojista revela duas particularidades: "A entrada para os andares superiores é feita pela Rua de Trás e as casas são divididas a meio pelas escadas. Daí a necessidade do lava-mãos e do penico: o quarto fica de um lado e o WC no outro..."
Habitações com uma chave por divisão
No edifício da Rua da Assunção, onde vivem os irmãos de Fátima Meira, o aproveitamento de espaço fez com que as escadas dividissem cada andar ao meio. "De um lado o quarto e a cozinha, do outro a sala e o WC", contou a lojista, referindo que cada parte da habitação tem a sua chave. O mesmo com Olga Carmo. Apesar de o imóvel ser todo seu, cada divisão tem, por segurança, uma chave.