O presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Alto Minho (ULSAM), João Porfírio Oliveira, garantiu esta sexta-feira que o utente com pulseira verde que morreu na urgência do hospital de Viana do Castelo recebeu todos os cuidados de saúde, mas morreu de "enfarte agudo".
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João Porfírio Oliveira reconheceu, contudo, que, neste caso, o tempo de espera para a vítima, Manuel Ricardo Ribeiro e Costa, de 57 anos, ser atendida na urgência, cerca de quatro horas, "é superior, e aí assumimos, é superior ao de um verde".
Numa audição no Parlamento, a requerimento do Chega (CH), aquele responsável informou que a pulseira verde na triagem foi atribuída à vítima "por um algoritmo", de acordo com "os sinais" que este apresentava, e que "ao contrário do que é dito, o doente não desfaleceu na sala de espera".
Citou o relatório do inquérito interno para o qual foi "convidado instrutor externo para apuramento da verdade, o mais transparente possível" e que, entretanto, o mesmo foi arquivado, para esclarecer que "este doente apresentava sinais, está escrito em todo o processo, que levaram a que o algoritmo da triagem atribuísse pulseira verde". Quando foi dada indicação por quem acompanhava o doente que o seu estado de saúde se tinha agravado "foi imediatamente retriado e levado para a sala da emergência, onde são feitos todos os cuidados e acções necessárias para que a situação não piore". "Aí verifica-se que é um estado cardíaco, o que se faz é ativar todos os cuidados para que uma situação, como era o caso, de enfarte já agudo, possa ser tratada, e a verdade é que apesar destas ações já não fomos a tempo de salvar o utente", disse. O responsável acrescentou que o falecimento foi "verificado várias horas depois, mas o tempo de espera na sala de urgência - e reconhecemos que é superior ao tempo máximo de respostas garantida no caso de um verde -, também tem a questão da afluência que nesse dia a urgência do hospital tinha".
Sublinhou que, segundo o relatório do procedimento interno, "não [se] apurou nenhuma responsabilidade direta, por falta de auxílio ou por falta de algum dever de assistência ao doente falecido. Destacou, finalmente, que o CA da ULS do Alto Minho, fez questão de tornar público o resultado do inquérito face ao impacto que o caso teve . "Criou-se um ambiente de muita tristeza no hospital pelos ataques que os profissionais de saúde estavam a ter na praça pública", indicou. Informou ainda que não há ainda qualquer informação sobre o processo que corre no Ministério Público.
Mais de quatro horas à espera para ser atendido
Manuel Ricardo Ribeiro e Costa morreu na sala de espera do hospital de Viana do Castelo, cerca de quatro horas depois de ter recebido pulseira verde na triagem (para situações menos urgentes, que podem aguardar atendimento no espaço de 120 minutos).
A vítima terá dado entrada na urgência, no dia 17, cerca das 11.30 horas, acompanhado pela esposa, apresentando sintomas como "dor no peito, falta de ar e um braço dormente". E não terá sido atendido até cerca das 15.30 horas, quando, segundo relatos da família, "caiu inanimado na sala de espera". Foi socorrido nessa altura, mas perto das 19 horas, foi comunicado o óbito aos familiares. Manuel teria na família "antecedentes de problemas cardíacos".
Em declarações ao "Jornal de Notícias", aquando do arquivamento do inquérito pela ULS do Alto Minho, Augusto Manuel Costa, irmão da vítima, declarou: "Nunca pensei que fossem arquivar, mas nós vamos avançar com o processo judicial. Já está decidido. Não estou contra a ULS, acho que se houve negligência foi na triagem. Não vou acusar A, B ou C, mas alguém tem de ser responsável. Vou até aos limites."
Num comunicado divulgado na altura, o Conselho de Administração daquela ULS, considerou que a atuação dos serviços de saúde, no caso da morte de Manuel Ricardo Ribeiro e Costa, natural de Deão, Viana do Castelo, "não merece qualquer censura".