Ainda há quem guarde a memória das sirenes que anunciavam as descidas à mina de carvão no elevador do Cavalete do Poço de S. Vicente em S. Pedro da Cova. A estrutura de betão e o complexo industrial, abandonados há 40 anos, são agora monumentos.
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Da actividade mineira que se desenvolveu a partir do início do século XIX, pouco resta. As minas de S. Pedro da Cova, em Gondomar, fecharam em 1970 com o petróleo a destronar, em definitivo, o carvão. Parte da população teve ou tem familiares que trabalharam no complexo mineiro. Hoje é uma sombra do passado.
O vandalismo e o abandono ditaram a destruição dos edifícios industriais (só sobram as carcaças) e do próprio cavalete em betão armado. Essa estrutura e as instalações do poço de S. Vicente foram classificados como monumento de interesse público pelo Ministério da Cultura por evocarem o "mundo duro do trabalho das minas". O Cavalete, construído em 1930, é uma peça rara e com "impacte cenográfico", além de servir de exemplo da "qualidade e da capacidade de concretização da engenharia nacional", como pode ler-se na portaria, assinada, este mês, pelo secretário de Estado da Cultura.
Movimento cívico
A distinção era reclamada, há anos, por cidadãos e pelo poder político. E desde 2008 que existe um movimento cívico que pugna não só pela classificação do complexo, mas também pela recuperação. Outra batalha que, de acordo com o presidente da Junta de S. Pedro da Cova, não tem fim à vista. " A recuperação é urgente. Estamos a desenvolver um processo de busca de colaboração dos donos privados do terreno para a recuperação do Cavalete", explica Daniel Vieira, para que não se percam os edifícios industriais. Por lá, além do Cavalete com 38 metros de altura, reconhecem-se o refeitório, a farmácia, alguma maquinaria e o principal poço de entrada na mina.
A exploração do carvão atingiu o apogeu no início do século XX com a extracção de 330 mil toneladas por ano. Então, era transportado em pequenos vagões suspensos para o Monte Aventino, no Porto. Seguiam pendurados num cabo aéreo com nove quilómetros de extensão. No regresso a Gondomar, os vagões paravam na estação de Rio Tinto para carregar a madeira que servia para escorar as paredes da mina.