Ninguém sabe ao certo explicar a origem da tradição, mas esta cumpre-se há longo tempo e há quem a relacione com a celebração da "última ceia". Na ribeira de Viana do Castelo, a população assinala a Quinta-Feira Santa com peixe frito e rabanadas à mesa. E após a refeição, à noite, percorre as capelas e igrejas da cidade, que habitualmente abrem as portas de propósito para a visita de milhares de pessoas. Reza a tradição que se visitem em número impar, num máximo de sete.
Corpo do artigo
"Na casa dos meus avós, sempre se fez o peixe frito e a bucha [pão] frita polvilhada de açúcar e canela. Faço isto todos os anos, em memória aos meus", contou ao JN Antonieta Brito, de 66 anos, professora reformada, que faz questão de dizer que até nem come fritos, mas que, neste dia específico, abre exceção em nome da tradição, que no seu caso inclui também juntar moedas para deixar esmolas nas capelas que visitar após o jantar.
"Hoje, vou visitar sete capelas", descreve, mostrando o dinheiro alinhado junto ao prato do dia. No seu caso, sardinhas espalmadas.
Florbela Monteiro, de 65 anos, refere que "geralmente costuma-se fritar sável", mas este ano calhou fazer filetes e, claro, rabanadas. "Não sei o porquê desta tradição da ribeira, mas a minha mãe que já tem 93 anos sempre fez, eu faço e há muita gente que faz. Tenho muito orgulho nisso", disse.
À frente da paróquia de Nossa Senhora de Monserrate, o padre Vasco Gonçalves reconhece o enraizamento deste hábito popular, associado ao início do tríduo pascal. Considera, no entanto, que a sua "ligação à última ceia, não parece assim tão vincada".
"Acho que é uma tradição local que se criou. Havia uma senhora, a tia Laurinda que já faleceu, com 90 e tal anos, que me falava sempre no peixe frito e nas rabanadas. Chegou a mandar para a igreja um "taparwere" de rabanadas", recorda, referindo que, em termos religiosos, as tradições são outras.
"Na Quinta-feira Santa, celebra-se a última ceia [com eucaristia] e, depois durante a noite, somos convidados a rezar diante do Santíssimo [adoração], que não está no sacrário principal. E daí veio também a tradição da visita às igrejas", concluiu.