O único cemitério do concelho da Amadora foi ampliado há dois anos e para conseguir dar resposta às inumações a autarquia continua a ser obrigada a fazer cerca de 600 exumações por ano. A população aceita o facto com naturalidade mas pede um forno crematório.<br />
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“Hoje, o cemitério tem capacidade de resposta para tudo”, garantiu ao JN, Eduardo Rosa, o vereador da Câmara Municipal da Amadora. Durante vários anos, o equipamento, localizado na freguesia da Venteira, sofreu problemas de sobrelotação que só foram resolvidos com a ampliação de uma nova área que permitiu a construção de mais de cinco mil nichos aeróbios (sepulturas em gavetão de decomposição rápida).
A cada ano, o cemitério recebe uma média de 1200 corpos para sepultar. Ao mesmo tempo, é feita uma rotatividade com as exumações que, por lei, só podem decorrer após um período mínimo de três anos.
A Câmara Municipal da Amadora publicou recentemente um edital com mais de seis centenas de sepulturas a serem exumadas até ao final de 2011, facto normal e previsto na lei.
Contudo, e segundo o regulamento do cemitério, “se no momento da abertura não estiverem terminados os fenómenos de destruição da matéria orgânica, recobre-se de novo o cadáver, mantendo-se inumado por períodos sucessivos de dois anos até à mineralização do esqueleto”.
Nestes casos que obrigam ao adiamento da exumação fala-se em “taxa de insucesso”. No cemitério da Amadora, tal sucede a um número que oscila entre os 30% e os 50% dos casos, disse o autarca, explicando que vários factores contribuem para tal, sendo o mais frequente um elevado índice de humidade que impede a decomposição do cadáver.
Todavia, Eduardo Rosa frisou que com a ampliação do cemitério “a capacidade aumentou em mais de 70% com um novo método de decomposição de corpos através de nichos aeróbios” que possibilitam um processo de decomposição acelerado “com ventilação”. Ou seja, o grau de sucesso aumentou e, por isso, garante que “nos próximos anos não precisamos de pensar noutro cemitério”.
A meio da tarde de ontem, o JN encontrou, à porta do cemitério, duas moradoras da Amadora que não se opuseram às exumações mas sublinharam que o espaço sofre de um grave problema.
“Isto devia ter um forno crematório!”, afirmou Felicidade Lança, de 59 anos. “Os meus já os tenho aqui e pago uma renda todos os anos, mas se amanhã eu não estou cá, como é que vai ser?”, questiona. “Se eu não estiver cá, as coisas desaparecem e isto não pode ser pago, não é?”, desabafa. Como tal, assume a sua vontade em ser ali cremada para não ter que “ir para o Alto de São João”.
Ao lado, Helena Pedro, de 72 anos, corrobora da ideia até porque “há espaço, já que o cemitério é grande”. E frisa que a necessidade de um forno crematório é uma questão pedida por muita gente no concelho. Aproveitou ainda para dizer que, ao contrário do que muitas pessoas acusa, ali “ninguém rouba as flores a ninguém”. “É o vento que as leva”, assegura.