Um milhar de pessoas visitaram sepulcrários da capital numa semana. Elogiam sobretudo a beleza e a história dos jazigos.
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Por detrás de um jazigo ou de um crematório há histórias com centenas de anos que levam cada vez mais pessoas a visitarem cemitérios. Durante o ano, a maioria são estrangeiros, sobretudo franceses e alemães. Atenta ao aumento deste interesse, a Câmara de Lisboa organizou a primeira edição da semana cultural dos cemitérios que, até esta quinta-feira, recebeu perto de um milhar de visitantes, mais do que no resto do ano nas visitas orientadas pelo município (734). Os eventos esgotaram quase todos e a autarquia quer repetir os mais populares, como as visitas noturnas.
Manuel Ferreira está fascinado a olhar para as esculturas que se destacam no Jazigo Valmor, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Não é a primeira vez que o vai ver, mas desta é diferente. "Normalmente está fechado, não conhecia por dentro. É muito bonito, folheado a ouro. Já se visitam cemitérios noutros países, tem de se começar a fazer o mesmo cá", diz o visitante motivado para ver o crematório e a morgue.
O morador na Penha de França foi um dos vários que hoje visitou monumentos, habitualmente de acesso restrito, do maior cemitério de Lisboa. Clarisse Sousa e Carlos Aguiar, turistas brasileiros, já tinham visitado cemitérios na França e no Brasil, mas nada como este. "É impressionante como em Portugal conservam o património, os jazigos estão em muito bom estado. É muito luxo para morrer", brinca Carlos enquanto ouve Pedro Rocha, técnico superior da Santa Casa.
Estão a ver o Jazigo dos Beneméritos da Misericórdia, que tem uma peculiaridade especial. "A maior parte dos jazigos são feitos por canteiros, já existe um desenho feito e escolhe-se qual se quer. Este foi feito por um arquiteto", explica Pedro Rocha, apontando para figuras mitológicas e outros detalhes arquitetónicos que prendem a atenção dos turistas. A visita continua pelo crematório, a casa das autópsias, o jazigo dos beneméritos da cidade e termina na cripta dos combatentes da Grande Guerra.
A casa das autópsias ou "depósito de falecidos" é uma das construções que guarda as histórias mais curiosas. "As pessoas vinham aqui identificar corpos. Segundo os jornais da época, em 1893 passaram aqui mais de 20 mil pessoas para identificarem uma mulher que tinha sido morta pelo marido", conta aos visitantes a investigadora Gisela Monteiro.
Visitas também cresceram no Porto
Os dois cemitérios municipais do Porto, incluídos na Rota Europeia dos Cemitérios, mais do que duplicaram o número de visitantes, entre 2015 e 2018, e os portugueses e brasileiros foram os que mais aderiram à moda do turismo sepulcral.
Os dados da Câmara do Porto de 2019, antes da pandemia, indicam que os cemitérios de Agramonte (1855) e do Prado do Repouso (1839) receberem "432 visitantes em 2015" nas sete visitas guiadas, enquanto em 2018 este número subiu para "1205 nas 17 visitas realizadas entre maio e outubro".
O crescendo de visitas poderá ser explicado pelo facto de os cemitérios em causa estarem incluídos na Rota Europeia dos Cemitérios, criada pelo Conselho da Europa.