PS, PCP, BE e Livre dizem que o líder camarário tem as "prioridades trocadas" e "falta de visão" para Lisboa. Presidente lamenta "bloqueios" e lembra que, na principal aposta, 55 mil pessoas já não pagam transportes.
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"Prioridades trocadas", "impreparação" e "falta de visão para a cidade" são algumas das críticas apontadas pela oposição à governação do líder da Autarquia lisboeta um ano depois de tomar posse como presidente da Câmara de Lisboa. Entre recuos, hesitações e decisões polémicas, Carlos Moedas tem justificado as dificuldades com os "bloqueios constantes" da oposição. Governa sem maioria absoluta, o que o tem levado a adotar uma postura de "vitimização", segundo PS, PCP, BE e Livre, mas Moedas não tem dúvidas de estar a "construir uma melhor cidade para os lisboetas".
Ao final de um ano atribulado da coligação Novos Tempos (PSD, CDS-PP e independentes), Carlos Moedas reconhece ao JN que "não se fez ainda tudo - porque não se faz tudo num ano - mas cumpriu-se um início de futuro". Foi o descontentamento dos lisboetas com Fernando Medina e algumas das suas bandeiras eleitorais que lhe deram a inesperada vitória. Destas, já concretizou duas: a gratuitidade dos transportes públicos para estudantes e idosos, que levou muitos ao desespero em filas enormes para adquirir o passe (ler reportagem ao lado), e a devolução gradual do IRS aos lisboetas para o valor máximo de 5%.
Moedas congratula-se da mais popular. "Somos das poucas capitais europeias que oferecemos transportes públicos gratuitos aos mais novos e aos mais velhos. Hoje são já 55 mil pessoas", destaca.
Inês Drummond, vereadora socialista, considera que a medida, embora "positiva", teve falhas. "Foi votada em abril, tiveram vários meses para articular de forma a que os problemas na aquisição do passe, em sítios muito circunscritos, não existissem", observa. Beatriz Dias, vereadora do BE, João Ferreira, vereador do PCP, e Rui Tavares, vereador do Livre, defendem que a proposta fracassou, entre outras coisas, por deixar de fora os estudantes sem morada fiscal em Lisboa.
A devolução do IRS também é criticada por João Ferreira e Rui Tavares, que consideram que esta medida "favorece os mais ricos".
O "problema" da habitação
Para os vereadores sem pelouro, as "falhas mais gritantes" sentem-se, contudo, na habitação, "o maior problema da cidade". Inês Drummond e Beatriz Dias dizem que as políticas têm sido "inexistentes". "Não conhecemos nenhum projeto novo", diz a socialista. Já Beatriz Dias lamenta "o adiamento sistemático da resposta pública de habitação" e João Ferreira critica "os projetos prontos que foram metidos na gaveta". Moedas, por sua vez, lembra que lançou "o maior programa dos últimos 10 anos e uma aposta muito clara na reabilitação e requalificação dos bairros municipais".
O presidente da Câmara tem criticado os "bloqueios" da oposição ao travar propostas, mas os vereadores garantem que não impediram nada "estrutural". "Se esta fosse uma oposição do "bota-abaixo" não teriam sido aprovadas as medidas mais emblemáticas ou o orçamento", sintetiza Rui Tavares. Inês Drummond lembra que "em mais de 800 propostas, o PS inviabilizou quatro". Beatriz Dias diz mesmo que "quem tem bloqueado o debate é o presidente da Câmara ao atrasar a votação de propostas".
Num ano de mandato, João Ferreira diz que Moedas tem relevado "impreparação para o cargo" e Rui Tavares fala em "falta de visão e de uma ideia para Lisboa". Para Drummond, o edil "tem as prioridades trocadas".