Cerca de 500 seniores de 50 instituições da região de Aveiro subiram ao palco das artes para competir.
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Donzilia Capão, de Mira, tem 83 anos e dedicou toda a sua vida à agricultura e à criação de gado. A morte do marido, companheiro de vida, levou-a ao centro de dia do Centro Social Paroquial do Seixo de Mira. Nunca pensou que "seria tão bom". "Há males que vêm por bem", garante nostálgica. Donzília foi uma dos 500 seniores de 50 instituições da região de Aveiro e Coimbra que este sábado participaram no "Idolíadas - Concurso Artístico para Seniores", promovido pelo Município de Ílhavo, na Casa da Cultura.
Oriundos de Águeda, Albergaria, Aveiro, Ílhavo, Mira, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos, "competiram" em cultura geral, teatro, música, dança, arte plástica e fotografia.
A dança contagiou o público. As canções eram proferidas como uma oração por aqueles que não tinham microfone e não eram ouvidos e o teatro emocionou a plateia. Todos pedem é que o "tempo [lhes] dê mais tempo".
Quatro ensaios chegaram para Donzilia estar na "linha da frente" num espetáculo de luz e dança. Diz que está habituada. Faz leituras na missa e já foi cantar com o grupo à televisão.
Adelaide Calado é outra "estrela" da tarde. A ilhavense, de 87 anos, que integra o Lar de Nossa Senhora da Nazaré, adora ser tratada por "velhinha". Ao contrário de Donzilia, confessa que, este ano, não se preparou para o desafio de cultura geral que estava prestes a enfrentar, mas também não se mostrou nervosa. "Não ensaiamos nada. É o que sair" afirmou descontraída.
A festa começa no público. Manuel Lopes foi "obrigado" a ir para o Lar de São José, em Ílhavo, aos 48 anos devido a uma doença. Hoje, com 63 anos, aplaude de pé o Idolíadas. Participa desde a primeira edição, mas este ano integra apenas a claque. "Desde o início que soube que o Idolíadas vinha para ficar", elogia.
Apesar das razões diversas que levam os seniores a optar pelas instituições para passar a velhice, há algo que os une: a memória que cada um tem do que já viveu. E a memória da tarde de ontem já ninguém lhes tira.