<p>O centro histórico da vila de Ferreira do Zêzere transformou-se hoje, quarta-feira, num imenso estaleiro com dezenas de populares e de bombeiros a desobstruir as ruas, a limpar e a repor telhas nos edifícios atingidos na terça-feira por um tornado.</p>
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O rasto de destruição tocou Maria José Leonardo, 65 anos, que contou à agência Lusa ter sentido "um medo horrível" ao ver "tudo a voar".
"Vinha das compras, com dois sacos nas mãos, quando começo a ouvir um barulho muito esquisito no ar. Quando olhei para o céu vejo um remoinho muito grande e muitas chapas no ar e só tive tempo de me agarrar com muita força a um portão de uma moradia", lembrou.
Segundo a residente na vila tocada pelo tornado, que deixou Ferreira do Zêzere sem luz e telecomunicações fixas ou móveis até à meia noite, "os sacos das compras desapareceram no ar", afirmando que o medo que sentiu na ocasião foi "horrível".
"" minha frente estava um poste telefónico que dobrava tanto com a força do vento que eu só o imaginava a partir e a cair para cima de mim", acrescentou, como que ainda temerosa.
Sónia Chaves, 30 anos, empregada numa empresa imobiliária situada no casco histórico da vila, lembrou à Lusa "um barulho que parecia um avião", tendo decidido "espreitar" à janela.
"Estava num primeiro andar e quando cheguei à janela vejo toda a gente a fugir e a gritar 'vem aí um tufão, vem aí um furacão'".
Sónia contou que se foi "esconder" nos lavabos, "o único refúgio sem janelas" no edifício que alberga a empresa.
Segundo lembrou, "quando aquele barulho passou ficou o som das telhas a cair e dos cacos na calçada".
Decidiu espreitar: "A rua estava num caos total. Casas sem telhado, telhas aos bocados pelo chão, vidros na rua, sinais de trânsito de pernas para o ar, bocados de árvores espalhados".
"E de árvores, como pinheiros e eucaliptos, que nem existem no centro da vila mas que o vento trouxe de algum lado", observou, com um suspiro.
"Esta manhã, quando o dia nasceu e percorremos a vila, tive a percepção do que é um cenário de devastação", disse por sua vez à Lusa Jacinto Lopes, presidente da autarquia.
"Devastação que nunca pensei ver em Ferreira do Zêzere", acrescentou, tendo sublinhado "o trabalho de todos em prol dos mais atingidos, amigos, familiares ou simplesmente vizinhos, e o espírito de solidariedade manifestado pelas autarquias da região envolvente que até material de construção civil ofereceram", vincou.
O autarca lamentou a destruição das decorações e iluminações de Natal, com o centro da vila "todo engalanado" para a quadra festiva, tendo lembrado que "em poucos segundos tudo ficou destruído".