Autarquia de Santa Comba Dão assinou protocolo com a Associação Cultural Ephemera. O desejo do autarca é abrir portas em junho.
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Parece que é desta: o Centro Interpretativo do Estado Novo (CIEN) – Regime e Resistência vai ser uma realidade. O projeto vai nascer na Escola Cantina Salazar, mandada construir pelo ditador português e inaugurada em 1940, no Vimieiro, em Santa Comba Dão, terra Natal de António Oliveira Salazar. O desejo do autarca é que abra portas em junho.
“É um momento que há muito esperávamos. Este projeto, que já teve tantas etiquetas e rótulos, encontra um caminho sem retorno”, começou por dizer o autarca, Leonel Gouveia, na assinatura do protocolo de cooperação para a concretização do CEIN.
Desta vez, a Câmara Municipal escolheu como parceira a associação Cultural Ephemera, de José Pacheco Pereira, que está a trabalhar na comissão científica, da qual já fazem parte a investigadora Luísa Tiago de Oliveira, Rui Feijó e Eduardo Marçal Grilo, especialista na Educação do Estado Novo.
“Não será um local para os saudosistas, nem será um local para os grupos que se opõem a este projeto”, esclareceu o autarca santacombadense, Leonel Gouveia.
Nem homenagem nem resistência
Numa visita ao edifício, José Pacheco Pereira garantiu que o espaço “não é um museu Salazar” nem um “museu da resistência”. “É um centro de investigação e de documentação muito importante na história. Quarenta e oito anos de ditadura é a mais longa ditadura do séc. XX, à exceção da União Soviética”, explicou, adiantando que o espaço estará aberto “ou para ver exposições ou para trabalhos de investigação”.
Para já, o historiador está a preparar, em conjunto com a sua equipa, a instalação de uma biblioteca no piso debaixo do edifício e aproveita para fazer um apelo.
“Todos os dias dezenas de milhares de documentos, desde fotografias a objetos são destruídos. Vamos combinar as recolhas e chamar a atenção das pessoas que muitas coisas a que não dão valor são muito importantes para esta história”, enalteceu José Pacheco Pereira.
A Ephemera apela, assim, a que todos os que tenham documentação do período entre 1926 a 1974, que a entreguem em Lisboa, Coimbra, Aveiro, Figueira da Foz, Viseu e, futuramente, em Santa Comba Dão.
O projeto do Centro Interpretativo do Estado Novo tem tido, ao longo das últimas duas décadas, avanços e recuos e há muitos que se opõem à sua existência. “Vamos colocar agora câmaras de segurança, mas não temos grande receio que possa haver atos de vandalismo”, admitiu o autarca.
A obra anunciada, em 2018, já custou mais de 250 mil euros à autarquia.