Em Valadares, Gaia, hoje é dia de festa. A sua Cerâmica sopra as velas do bolo de aniversário, pelos 100 anos. Declarada insolvente entre 2012 e 2014, retomou a atividade como ARCH Valadares e diz-se preparada para os desafios. Aguentou bem a pandemia, "sem focos de contaminação", e até teve no "primeiro trimestre um dos melhores de sempre".
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Segundo o diretor-geral, Henrique Barros, a ARCH foi uma "segunda oportunidade". Acabou "por converter-se num novo projeto, parecendo até que não houve descontinuidade, recuperando postos de trabalho e a dignidade laboral de muitos ex-colaboradores da Cerâmica, que achavam que tinham chegado ao final da sua vida profissional e não tinham expectativas, e hoje reconhecem que tinham muito ainda para dar".
Atualmente, a Valadares emprega cerca de 100 funcionários que transitam da antiga empresa. "Não houve despedimentos durante a pandemia. Pelo contrário, houve um reforço da equipa no segundo semestre de 2020 e que se mantém, esperando que venha a ser possível reforçar de novo e que o mercado nos peça isso", diz, otimista.
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Retoma já é sentida
Em março de 2020, a atividade ficou parcialmente condicionada, também para proteger os trabalhadores, mas nunca foi descurada a prestação de serviços aos clientes. "Conjugar estes dois processos foi um desafio que não estávamos à espera e que se calhar permitiu que que a empresa crescesse um bocadinho no modo organizativo", afirma, atalhando que "a partir de julho a atividade reanimou, embora as perdas tenham sido significativas".
O desconfinamento augura novas dinâmicas. "O mercado em Portugal tem-se portado surpreendentemente bem, o que para nós tem sido um bom sinal. Já os mercados internacionais tiveram uma flutuação maior. A contração foi elevadíssima, mas agora assiste-se a uma retoma progressiva. Atravessamos uma fase positiva, o ano começou bem. Estamos convencidos que a atividade económica vai aumentar porque vão-se libertar energias que foram guardadas durante este tempo", refere, sustentando a confiança no "aparecimento de mercados no estrangeiro que não eram explorados" pela ARCH.
"Os 100 anos são um enorme motivo de orgulho, mas estabelecem uma fasquia desafiante para o futuro. Vamos ter que trabalhar muito para triunfar no mercado e se tivermos esse mérito faremos mais 100 anos", sugere, determinado.
PRATA DA CASA
José Dias tem 30 anos de empresa
José Dias, chefe do Departamento de Controlo de Qualidade: "Estou na Valadares há 30 anos. Houve uma fase em que isto parou, convidaram-me para voltar e aqui estarei até me reformar. A empresa é um bocado a minha vida, são muitas horas de dedicação. Já vi colegas a chorar quando vão embora, para a reforma".
Gabriel e o amor à camisola
Gabriel Pereira, chefe do Departamento das Olarias: "Estou na Cerâmica há 31 anos. Para trabalhar na Valadares é preciso gostar do que se faz. Caso contrário é uma perda de tempo. Esta é uma casa centenária, cheia de histórias. Esta empresa é diferente, é por amor à camisola. Estamos fortes para enfrentar o futuro".
Carlos João fez a escolha certa
Carlos João, chefe do Departamento de Vidragem: "Vou fazer 30 anos de casa. Quando isto parou, retomei outro trabalho, mas depois a administração propôs que voltasse. Nunca me arrependi de ter regressado. Tenho muita fé na empresa. Sinto que a Valadares está a crescer. Não pode parar. Há de durar outros 100 anos".
Cronologia
Setembro de 2012 - A fábrica da Cerâmica Valadares fechou. Depois, com passivo e sem meios, foi declarada a insolvência.
Setembro de 2014 - A sociedade ARCH, formada por antigos quadros da Valadares e por investidores, assume a gestão.
Dezembro de 2019 - A ARCH, que até aqui pagava renda, passa a ser proprietária dos 65 mil metros quadrados que ocupa.
Abril 2021 - A Valadares celebra o centenário, com 130 colaboradores. Uma centena transita da antiga Cerâmica.