O bairro social das Lameirinhas, no centro de Albergaria-a-Velha, tem 30 anos, alberga 80 famílias e nunca viu uma obra de reparação que se digne. Chove nos apartamentos como na rua, o ferro de algumas vigas já é visível... uma imagem de abandono.
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Cozinheira desempregada, Celeste Marques, 54 anos, mostra a uma foto sui generis: o candeeiro do tecto do quarto, escorrendo um fio de água, como se de uma bica de tratasse. Moradora no 17 D do bairro social das Lameirinhas, no centro de Albergaria-a- -Velha, Celeste Marques é uma das vítimas do estado de abandono a que aquele bairro chegou.
Construído pela IGAP, nos idos anos 80, o bairro das Lameirinhas (pouco mais de 80 fogos), propriedade da Câmara de Albergaria-a-Velha e dos moradores que foram comprando os seus apartamentos, é, hoje, uma imagem de abandono: há vigas onde o ferro da estrutura já se vê, pintura exterior foi coisa que nunca teve - para além da original - e as infiltrações no telhado dão cabo das habitações: o tecto dos quartos estão negros, há quem durma com uns baldes ao lado por causa dos pingos, os azulejos das casas de banho ou já caíram ou estão ocos e o pátio comum é um "mar" de água sempre que chove.
Caleiras insuficientes
"As caleiras não dão vazão e o telhado não dá vazão", diz Celeste Marques, que quando viu o candeeiro do tecto do quarto a pingar como uma bica não deixou de tirar uma foto para a posteridade.
Maria Teresa Pereira, 73 anos, vive sozinha e tem problemas graves de saúde. Sofre de bronquite asmática e dorme todas as noites com um aparelho respiratório. O seu quarto, no número 20 do rés-do-chão, não foge à regra.
José Gomes, 49 anos, pedreiro, habita um T3 no número 15 do bairro, com dois filhos e a mulher. Paga de renda 24,73 euros e o tecto do seu quarto está todo descascado. "Ando a tomar medicamentos para a tosse", lembra os problemas de saúde que tem e que, diz, se agravam, com o grau de humidade que a casa que habita possui. "Já falei com eles e até ficaram de me trazer o material que eu faria as obras, mas nunca vi nada", desabafa.
Câmara alertada
"Eles" é a Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha que já foi alertada pela Associação de Moradores do bairro, criada em Outubro de 2008.
"Resolver os problemas de infiltração de água em quase todas as casas e no corredor comum é a prioridade", afirma José Freitas, presidente da Associação de Moradores que defende uma requalificação total do bairro.
"O bairro está todo degradado, mas o telhado é a coisa mais premente. Um telhado novo resolve 80 por cento dos problemas que temos no bairro", refere, salientando estar esperançado numa reunião durante este mês na Câmara.