Moedas critica "loucura" dos espaços para bicicletas e Medina promete construir mais 50 quilómetros de via ciclável
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Ter menos carros a circular em Lisboa e melhorar a rede de transportes públicos, problemas antigos da cidade, é prioridade de quase todas as candidaturas à Câmara de Lisboa. A parca oferta de autocarros para a periferia da cidade, uma rede de metro que favorece mais a zona central da capital e as ciclovias construídas por Fernando Medina continuam a ser alguns dos temas mais polémicos dos debates destas autárquicas.
As críticas à forma como as ciclovias estão a ser construídas, em Lisboa, sentem-se principalmente à Direita. Carlos Moedas, candidato da coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) garante que gosta de andar de bicicleta, mas tem insistido na ideia de que a capital "não tem ciclovias de qualidade, nem com segurança". O principal adversário de Medina critica "os declives de 10%" das ciclovias e diz que a forma como estas estão feitas "colocam o ciclista em contra mão com os carros" ou, na Avenida de Berna por exemplo, "entram por cima do passeio podendo provocar o atropelamento das pessoas". Acabar com uma das mais polémicas, a ciclovia da Almirante Reis, é um dos objetivos do social-democrata. "Hoje temos em Lisboa quase uma loucura das ciclovias que são mal construídas", defende.
O presidente da Câmara de Lisboa e recandidato à Autarquia pelo PS/Livre, Fernando Medina, reconhece que as ciclovias têm pontos a melhorar, mas não acredita que as intenções de Moedas sejam as mesmas. Num debate acusou o adversário de "querer ser simpático com as pessoas que utilizam o automóvel e ao mesmo tempo fazer o papel de moderninho". "A candidatura do PSD pôs-se ao lado da política do passado, a de embaratecer a utilização do automóvel na cidade. Acho que é muito claro o que eles pretendem", atirou. Numa ação de campanha mais recente voltou a insistir. " Um bocado ridículo um candidato de um partido com as responsabilidades do PSD fazer campanha na base do 'precisamos de melhorar o desenho das ciclovias"".
Medina tem ainda acusado Moedas de querer incentivar o uso de carro ao dar descontos de 50% no estacionamento da Empresa de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) para residentes em toda a cidade. O ex-comissário europeu argumenta, porém, que o desconto é "para quem vive em Lisboa e não consegue pagar o parquímetro". "Estimular o uso de automóvel seria dar incentivos aos 375 mil carros que entram em Lisboa diariamente e a esses não faço descontos", assegura Moedas. Para o social-democrata as "pessoas têm carro e vão continuar a ter". "Não podemos ter visão impositiva" (como a de Medina).
Transportes gratuitos para jovens e seniores
Na área da mobilidade, Moedas acredita que ao garantir transportes públicos gratuitos para moradores entre os 18 e os 23 anos e dos 65 para cima atrairá mais pessoas a este meio de transporte.
Uma proposta que também acolhe simpatia à Esquerda. Beatriz Gomes Dias, candidata do BE, defende a "implementação gradual da gratuitidade dos transportes públicos, a par com um investimento robusto para garantir um sistema mais regular e fiável, sobretudo nas horas de ponta". João Ferreira, candidato da CDU, também tem defendido transportes públicos, metro e autocarros, gratuitos e um "alargamento de horários e percursos", nomeadamente à noite porque "as pessoas também têm direito de se deslocar à noite". Uma expansão da rede do metro que chegue a concelhos limítrofes é outra das propostas do comunista.
A aquisição de 55 comboios para a Área Metropolitana de Lisboa, que permitirá reforçar a ligação ferroviária entre Lisboa e Sintra, com comboios com intervalos de cinco minutos, por exemplo, é uma das soluções apresentadas por Medina para melhorar a mobilidade.
Os candidatos à Câmara de Lisboa concordam que só uma melhoria da rede de transportes públicos poderá evitar a entrada diária de 375 mil carros na cidade de Lisboa, que se juntam aos dos moradores, circulando mais de meio milhão de automóveis por dia na capital. Só divergem na forma como o pretendem fazer. A maioria considera que o polémico projeto da linha circular não contribui para reduzir a entrada destes carros, e que só favorece o centro de Lisboa em detrimento da periferia, onde a rede de transportes é mais fraca. Um tema que também não tem escapado às ações de campanha e debates, apesar da obra já estar em curso.
O plano de ampliação da rede prevê a junção da Linha Verde com parte da atual Linha Amarela, passando a Linha Verde a percorrer grande parte das atuais estações da Amarela, contornando a cidade num círculo, que passa a incluir ainda duas novas estações (Estrela e Santos). As mudanças não agradam à maioria dos utilizadores do transporte, que passarão a fazer um transbordo no Campo Grande.