Cidadãos instalam banco de madeira para exigir reposição de assentos nas paragens de autocarro
O coletivo Infraestrutura Pública exige à Câmara de Lisboa que reponha "todos os bancos das paragens" de autocarro, que estão a ser substituídos, em dezenas de casos, por encostos. Esta quinta-feira o grupo colocou um assento em madeira junto ao Marquês de Pombal e não faltou quem aproveitasse para aliviar o corpo.
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"Nós estivemos lá, na Avenida Fontes Pereira de Melo, das 7.30 às 20.30 horas, e nem imaginávamos a quantidade de pessoas que precisam de um banco para se sentar enquanto esperam pelo autocarro", destaca Marta Sternberg, membro do coletivo Infraestrutura Pública, que organizou esta ação de protesto contra a mudança dos antigos bancos para simples encostos, ao abrigo do novo contrato de exploração da publicidade no espaço público de Lisboa, entre a Câmara Municipal de Lisboa e a empresa JCDecaux, que inclui a substituição dos antigos abrigos por novos equipamentos.
"Além daquelas situações visíveis para todos, como grávidas, idosos, ou pessoas de muletas, encontrámos também muita gente que sente a necessidade de se sentar e não percebe porque lhe retiram os bancos. Vimos, por exemplo, um senhor com um joelho muito inchado, que ao estar em pé o estava a forçar ainda mais, ou uma empregada de uma pastelaria que passa o dia a atender em pé e este bocadinho que tem para esperar pelo autocarro era o único em que se podia sentar e descansar um pouco", conta ao JN Marta Sternberg.
A jovem ativista destaca que, tal como neste caso, há quem opte por outras paragens, "daquelas que ainda têm bancos", desdobrando a viagem em dois ou três percursos, em vez de apanhar um direto. "Optam por esta solução só para se poderem sentar um bocadinho antes de chegarem a casa", observa, antes de realçar a indignação pelo que se está a passar em Lisboa. "O argumento da acessibilidade não pega, porque temos documentos que provam que ainda o ano passado lá estavam os bancos que agora foram retirados. Se acham que estes impedem a mobilidade de alguém, então que aumentem um pouco mais o passeio", sugere.
Uma "luta triste"
"Pagamos transportes públicos, que muitas vezes estão em atraso ou são poucos ou não aparecem, e, agora, o direito a esperar sentado foi-nos roubado", denuncia o Infraestrutura Pública, num comunicado enviado às redações.
Marta Sternberg revela ainda que, quando os membros do coletivo, há uns meses, começaram a reparar que estavam a ser retirados os bancos das paragens para serem substituídos por encostos, o grupo publicou nas redes sociais um apelo para que quem soubesse destes casos os denunciasse. "Recebemos imensas mensagens e fotos de paragens espalhadas pela cidade que tinham ficado sem sem bancos", revela.
Perante este cenário, a jovem sublinha que esta acaba por ser uma "luta triste". "Estamos em 2024, devíamos estar a reclamar melhores paragens para autocarros, mas não. Temos de voltar ao passado, porque isto é o retirar de um direito que já tínhamos, e estarmos a lutar por um banco", enfatiza.
Manual da autarquia diz que assentos são obrigatórios
As críticas do grupo parecem fazer sentido, atendendo a que o Manual de Espaço Público da Câmara Municipal de Lisboa, disponível online, estabelece que "o abrigo deve estar equipado, pelo menos, com o seguinte mobiliário: assento; papeleira; pilaretes; chapa identificadora".
Em setembro de 2023, o coletivo Infraestrutura Pública já havia reclamado o "direito ao sentar" na Praça Paiva Couceiro, onde o mobiliário urbano retirado durante a pandemia de covid-19 ainda não tinha sido reposto. No mês seguinte, a Junta de Freguesia da Penha de França voltou a colocar as cadeiras e mesas em falta.