Laboratório de Ílhavo, apoiado por investigadores, oferece atividades aos seniores. Há desde ginástica e bordado a sessões de realidade virtual para estimular a memória.
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Um laboratório, diz o dicionário, é um "lugar para a realização de experiências, trabalhos ou investigações de determinadas áreas científicas" e "para aplicação prática" desses conhecimentos. Foi precisamente por isso que a Câmara de Ílhavo apelidou uma das suas infraestruturas mais recentes - inaugurada há um ano - de Laboratório do Envelhecimento. Ali, formadores e investigadores trabalham em torno da velhice. E os seniores do município usufruem, gratuitamente, de várias iniciativas. Entre elas, há ginástica e aulas artísticas, mas também sessões de realidade virtual para estimular a memória. E existe um objetivo em todas: retardar sinais do processo de envelhecimento, como a demência.
Num dia comum, são cerca de 60 os idosos que vão ao Laboratório do Envelhecimento. Em atividades específicas, chegam a ser cem. Há iniciativas permanentes, outras pontuais e cada um escolhe os projetos em que quer estar inserido. "A oferta é diversa, para encontrarmos espaço para todos. São, maioritariamente, indivíduos autónomos, com as suas plenas faculdades. Significa que a procura e a oferta estão sempre correlacionadas com as expectativas deles", explica Mariana Ramos, vereadora.
"Melhorou muito"
Eduarda Gaspar, de 75 anos, é uma das muitas frequentadoras da iniciativa "Avó, sai da caixa", uma oficina semanal de criação artística, que desafia os seus dotes com agulha e linhas. "Em casa, já não tenho interesse em fazer isto, para depois ficar arrumado. Aqui, vou fazendo e é uma distração", adianta a idosa, enquanto borda um saco de pano que será utilizado como "merchandising".
Natércia, de 80 anos, também está a bordar. "Além disto, faço estimulação cognitiva, zumba e ginástica. Estou em casa sozinha, com depressões atrás de depressões, e assim saio", deixa claro a antiga professora primária.
O Laboratório do Envelhecimento trabalha em parceria com universidades e há vários investigadores que ali desenvolvem o seu trabalho. É o caso de Pedro Reisinho, da Universidade de Aveiro, do projeto "Realidades Imersivas Ativadoras de Memórias" (RIAM). "Através do "Street View", da Google, tentamos que os idosos visitem virtualmente espaços que lhes trazem memórias. Depois, vamos tentar que contem uma história relacionada com essas recordações", contextualiza. Foi o caso de Maria, que se emocionou ao "visitar" uma capela na Venezuela, onde esteve emigrada.
Pompeu Gonçalves está na sala onde decorre o RIAM. Com 73 anos, sofre de demência. "Andava a perder a noção do sítio onde estava e achava que eu lhe queria fazer mal. Soube do laboratório e viemos experimentar", recorda a filha, Filomena Gonçalves.
Com um diagnóstico de stress pós-traumático, por causa da guerra, Pompeu não reagiu bem, ao início. Depois, "foi experimentando várias coisas e passou a frequentar as que gostava", recorda ao JN a filha. Agora, faz zumba, boccia e sessões de estimulação cognitiva. E vai começar nas técnicas de relaxamento, para as quais aguardava vaga.
Filomena, que já não trabalhava para tomar conta dos filhos, dedica agora parte dos seus dias também ao pai. Leva-o ao Laboratório quatro vezes por semana. "Mudou o comportamento dele, está mais calmo. Melhorou mesmo muito. É bom vê-lo assim", assegura.