Antigo cinema, que já foi templo, está há vários anos sem uso, apesar de aquela Igreja dizer que tem um projeto social para ele.
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A Câmara do Porto quer classificar Cineteatro Vale Formoso e um conjunto de moradias adjacentes como conjunto de interesse municipal. A antiga sala de espetáculos já serviu de templo à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), mas atualmente está sem utilização. A autarquia afirma que pretende apenas salvaguardar o antigo cinema de bairro em estilo modernista e afasta qualquer hipótese de aquisição. A IURD diz que o antigo cinema não está à venda e que "o espaço em questão está destinado ao trabalho social da Igreja".
Na Câmara não entrou nenhum pedido de obras de requalificação daquele "equipamento que adquiriu honras de protagonista na cena cinematográfica do Porto, a par com o Cinema Batalha". Como se sabe, o Batalha está em requalificação, será transformado em Centro de Cinema e abrirá portas com programação em março do próximo ano. Para o Vale Formoso, a autarquia anunciou a 23 de março a publicação em Diário da República que "o conjunto representa para o Município do Porto um valor cultural de significado relevante, uma vez que se configura através da sua escala, da sua linguagem moderna e conteúdos programáticos, como um dos equipamentos urbanos de proximidade de maior notabilidade, enquanto exemplar do cinema de bairro promovido na época do Estado Novo".
Com este procedimento, "a transmissão de imóveis inseridos neste conjunto depende de prévia comunicação ao Município", que passa também a poder exercer o do "direito de preferência em caso de venda ou dação em pagamento". Recorde-se que já em 2011, após abrir um novo cenáculo no cruzamento das ruas de Egas Moniz e Serpa Pinto, a IURD anunciava estar a ultimar um "um projeto de âmbito social e cultural, o qual irá ser uma mais-valia para a cidade do Porto".
"A verdade é que continua neste estado de abandono quando podia ter um projeto cultural, nomeadamente nesta zona muito residencial. Não digo cinema mas teatro por exemplo", considera Florêncio Pinheiro que com nove anos vendia rebuçados e chocolates no intervalo dos espetáculos.
Mais do que a Sétima Arte são recordadas sobretudo as manhãs de domingo da Festival, programa do empresário Fernando Gonçalves. Verdadeiras enchentes acorriam ao Vale Formoso para ver as maiores vedetas da canção como o recém-falecido Artur Garcia, Madalena Iglésias, António Calvário e Simone de Oliveira.