Hospital de Matosinhos já operou mais de mil doentes nos últimos dez anos. Unidade de saúde transmitiu cirurgia complexa em direto para 88 países.
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Adolfo Maia, de 78 anos, tem diabetes, excesso de peso e quatro hérnias complexas. É um exemplo representativo dos doentes tratados na Unidade de Parede Abdominal Complexa do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. Sob o olhar atento de vários cirurgiões, foi operado na quarta-feira. A cirurgia, transmitida em direto para 88 países, foi narrada em inglês pela voz do cirurgião Fernando Ferreira, que esclareceu as dúvidas dos colegas enquanto operava.
Inserida no primeiro Simpósio Avançado da Unidade de Parede Abdominal Complexa, a cirurgia demorou cinco horas e serviu para partilhar o saber e a experiência adquirida pela unidade, pioneira no tratamento da patologia. As operações, realizadas desde 2009, dão uma melhor qualidade de vida aos doentes.
"Antes destas cirurgias, o doente dado como inoperável vivia com a sua hérnia. Às vezes tinha complicações e acabava por falecer. Em vez de deitarmos a toalha ao chão, devemos procurar melhores soluções para situações dramáticas", disse a cirurgiã Eva Barbosa.
Nos últimos dez anos foram realizadas mais de mil operações. Dessas, 115 foram consideradas inoperáveis noutras unidades de saúde. Ainda assim, há milagres que se fazem no bloco operatório do Pedro Hispano.
A equipa afeta à unidade, composta pelos cirurgiões Fernando Ferreira, Eva Barbosa e Emanuel Guerreiro, aperfeiçoou uma técnica, que vai além de tapar hérnias com uma rede. "Começámos a fazer reparação dos orifícios herniários com os tecidos do próprio doente, tapando o orifício de forma a que o doente possa fazer abdominais, se for necessário", explicou ao JN o cirurgião Fernando Ferreira.
Em Matosinhos, os pacientes com hérnias complexas - com idades entre os 25 e os 84 anos - chegam de vários pontos do país. Cerca de 39% são referenciados por outros hospitais nacionais. Há ainda quem venha do estrangeiro para ser operado. Cada caso é um caso e, por isso, a estratégia passa por uma avaliação multidisciplinar do doente. As hérnias têm mais de 10 centímetros.
Casos complicados
"São situações catastróficas de doentes sem qualquer qualidade de vida", referiu Fernando Ferreira.
A par de tratar utentes de vários países, o Hospital Pedro Hispano treina médicos de vários países. Alguns vêm até Matosinhos receber formação, outros pedem conselhos via online. Os três cirurgiões da unidade deslocam-se ainda ao estrangeiro para participar em conferências e palestras.
Eva Barbosa já esteve em "variadíssimos países". Desde os Estados Unidos à Arábia Saudita, passando por Espanha, Itália e Alemanha. "Na Arábia Saudita foi uma experiência bastante interessante. O anfiteatro estava dividido por um biombo, com homens de um lado e mulheres do outro", recordou a cirurgiã.
OUTRO CASO
Italiana operada em 2015
A equipa da Unidade de Parede Abdominal Complexa do Hospital Pedro Hispano acompanhou, em 2015, o caso de Nella Pagnini, uma italiana de 73 anos que vivia há vários anos com uma hérnia. Na altura, Nella Pagnini contou ao JN que devido a uma massa disforme de intestino que trespassou a parede abdominal não conseguia caminhar normalmente ou baixar-se para brincar com os netos. Após ter sido operada duas vezes sem sucesso em Itália, a mulher recorreu ao Hospital Pedro Hispano para ser operada. A cirurgia demorou quase seis horas. "Foi tão minucioso como desativar uma bomba", disse, na altura, Fernando Ferreira.