"Clérigos. História do ex-líbris da cidade do Porto" é o título do mais recente livro de Germano Silva. A segunda incursão do autor pela literatura infantil tem ilustrações de Pedro Pires e recupera a figura do Tripinhas, conhecido de uma outra história, que volta a vestir a pele de narrador. A obra é apresentada nesta sexta-feira.
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Numa viagem pelo Porto mercantilista do século XVIII, o leitor descobre algumas curiosidades sobre o conjunto arquitetónico desenhado pelo italiano Nicolau Nasoni (1691-1773), que terá começado a trabalhar na cidade em 1725, executando então uma série de pinturas na sé catedral.
Entre as curiosidades estão, por exemplo, a origem da expressão "mandar [alguém] às malvas" e o papel que a torre desempenhou, não só como guia dos navegantes, mas também como relógio: o sol do meio-dia incidia sobre uma lente que queimava um fio, que, por sua vez, acionava um gatilho e fazia explodir uma porção de pólvora. O troar fazia-se ouvir por toda a cidade e a engenhoca recebeu o nome de Meridiana.
O livro também relata episódios como a festa que o Porto fez por altura do lançamento da primeira pedra da igreja, o suborno de um abade ao mestre pedreiro e as acrobacias na torre, que foi o último elemento do conjunto a ser construído, entre 1754 e 1763. Dada a sua importância para os clérigos pobres, que enfrentavam dificuldades tanto na doença como na velhice, o antigo hospital (onde agora está o museu) também merece destaque nestas páginas em BD.
Depois da "História da Santa Casa da Misericórdia do Porto em Banda Desenhada", publicada em quatro volumes, entre 2011 e 2012, e narrada pela personagem Tripinhas, Germano Silva volta a escrever para crianças e novamente na companhia de Pedro Pires. Tal como da primeira vez, só encontrou uma dificuldade na adaptação da escrita: "Usar a síntese, sem deixar de explicar tudo".
O autor referiu-nos que a ideia desta nova história é explicar "que os Clérigos não são apenas a torre" que se tornou símbolo da cidade. A propósito, o antigo jornalista do JN - que a cidade tão bem conhece pelas crónicas e passeios com sabor a história - lembra que o arquiteto Nicolau Nasoni está sepultado na Igreja dos Clérigos. "Não se sabe é onde. Esse mistério persiste", concluiu.
O mentor do livro é Américo Aguiar, que foi o primeiro presidente da Irmandade dos Clérigos a ser eleito, tendo exercido o cargo de 2011 a 2020. Atual bispo auxiliar de Lisboa, a ele ficou a dever-se o processo de reabilitação dos Clérigos levado a cabo entre 2012 e 2014. Germano Silva conta que nessa altura (e depois das tentativas de outro presidente, no século XIX) se procurou descobrir o local exato da sepultura de Nasoni, sem sucesso. Apenas se sabe que foi enterrado como irmão leigo, mas há muitas ossadas no templo.
A apresentação de "Clérigos. História do ex-líbris da cidade do Porto", a cargo do jornalista Pedro Olavo Simões, está marcada para as 16 horas desta sexta-feira, na Igreja dos Clérigos. Para já, o livro vai estar à venda na loja local, chegando depois às livrarias.