Parceria entre a Lipor e a Zero Desperdício ajuda muitas famílias da Área Metropolitana do Porto, evitando que alimentos em bom estado vão para o lixo.
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Cerca de 369 toneladas de comida em boas condições, que iria parar ao lixo, já alimentaram mais de 16 mil pessoas na Área Metropolitana do Porto (AMP) só em 2020. Um feito possível graças à parceria entre a associação Zero Desperdício e a Lipor, empresa que gere o lixo da maior parte dos concelhos do Grande Porto. Juntas, combatem o desperdício alimentar, evitando que a comida acabe na rede de gestão de resíduos e permitindo que, pelas mãos de 17 organizações sociais e de solidariedade dos concelhos de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde, chegue a milhares de famílias carenciadas.
Os alimentos chegam de duas formas: são recolhidos pelas associações ou são as próprias entidades doadoras que entregam.
Apesar dos números generosos, a pandemia de covid-19 fez disparar os pedidos de ajuda às autarquias e à Zero Desperdício, mas a resposta tem ficado pendente para muitos casos porque os doadores - cantinas, restaurantes ou supermercados - têm menos excedentes, por terem estado encerrados ou terem menos procura.
Beneficiários sinalizados
Na Junta de Freguesia de Paranhos, no Porto, o combate ao desperdício alimentar é feito já desde julho de 2015. Atualmente, o Movimento Paranhos Zero Desperdício reduz a insegurança alimentar de 18 agregados familiares. "Todos os beneficiários são sinalizados através do Gabinete de Ação Social", contou Alberto Machado, presidente da Junta de Paranhos, acrescentando que a pandemia de covid-19 agravou algumas situações económicas e que o aumento dos pedidos tem sido notório.
"Contudo, os excedentes alimentares recolhidos têm sido bastante mais reduzidos, já que há menos clientes a frequentar cantinas e refeitórios e, por isso, não tem sido possível ajudar mais famílias", acrescentou o autarca.
Ainda assim, a Junta de Paranhos tem conseguido manter as distribuições, feitas de segunda a sexta, com a comida que chega de diversos locais como a cantina do Hospital de S. João, os Serviços de Ação Social da Universidade do Porto, o Hospital dos Lusíadas, o Serdial Vending, SA, o Pingo Doce de Salgueiros e o Continente das Antas.
Esta Junta é apenas uma das organizações que fazem parte do projeto. Na Legião da Boa Vontade (LBV) do Porto são ajudados cerca de 220 agregados familiares da Área Metropolitana.
Aqui, "as doações são recebidas cinco dias por semana" e a distribuição às famílias é feita diariamente. Desta forma, é assegurada a "distribuição dos alimentos, na sua maioria, frescos, em boas condições", esclareceu Ângelo Silva, administrador do centro social da LBV Portugal.
Também nesta instituição, "a situação pandémica originou um aumento dos pedidos de ajuda". Apesar de "as lojas Lidl, continuarem a manter o nível de resposta", a covid-19 gerou uma diminuição quanto ao restante tipo de doações, nomeadamente das "doações em numerário".
Apesar da conjuntura provocada pela pandemia, a Zero Desperdício continua a lutar para diminuir a quantidade de comida que vai parar ao lixo na Lipor.
Rede nacional
Na rede da associação existem, neste momento, 551 doadores e 207 recetores que auxiliam cerca de 540 mil beneficiários em todo o país. Reiterando que esta iniciativa não pode ser, nunca, "uma resposta para as famílias que precisam de apoio e que não se pode pôr nas mãos do retalho essa responsabilidade", Paula Policarpo, fundadora da Zero Desperdício, admite que os pedidos de ajuda continuam a ser muitos.
"As instituições pedem-nos todos os dias mais alimentos. E lembremo-nos que esta já é uma resposta suplementar", insiste.
Para a Lipor, este é mais do que um projeto social com um cariz solidário. É também uma resposta com a vertente ambiental e com bastante peso na luta pela redução dos resíduos alimentares.
"A intenção é unir esforços para apoiar os mais carenciados, reduzir o desperdício de alimentos, e consequentemente, reduzir os resíduos alimentares", adiantou a empresa, acrescentando que cerca de 40% dos resíduos urbanos tratados nas instalações da Lipor são biorresíduos e, destes, 25% são alimentares.