Quase 35 anos depois do encerramento da linha Pocinho-Barca d'Alva, renasce a esperança no Douro de voltar a ter o comboio a apitar até à fronteira com Espanha. O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, garantiu nesta segunda-feira, em Freixo de Espada à Cinta, que o objetivo do Governo é "lançar o concurso público para o estudo prévio e para o projeto [de reativação] no primeiro trimestre de 2023". A data previsível de inauguração não foi avançada.
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Pedro Nuno Santos foi a Freixo com a ministra da Coesão, Ana Abrunhosa, participar na apresentação do estudo de viabilidade para reabrir os mais de 27 quilómetros desativados em 1988. O troço desenvolve-se no distrito da Guarda, entre Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) e Barca d'Alva (Figueira de Castelo Rodrigo).
De acordo com o documento, a reativação vai custar 75 milhões de euros. Prevê que seja "rentável do ponto de vista económico, com os benefícios a totalizarem mais de 84 milhões de euros", permitindo criar mais de 4700 empregos em negócios ligados ao turismo.
A reativação da linha até à fronteira com Espanha tem sido defendida por autarcas, deputados da República, associações e outras organizações públicas e privadas, e pela população duriense. Em 2020, foi entregue no Parlamento uma petição com 13 500 assinaturas, iniciativa da Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e da Fundação Museu do Douro.
A justificação é que se trata de um investimento prioritário para a dinamização turística de uma zona do país com muito potencial, mas cada vez mais deprimida e despovoada, bem como para o transporte de passageiros e mercadorias, e por questões ambientais.
Processo "demorado"
Ontem, o ministro das Infraestruturas disse que depois de muitos anos de desinvestimento e abandono da ferrovia, o Governo a que pertence "está a fazer o contrário". "Como a linha do Douro tem um potencial único no Mundo, que deve ser aproveitado em toda a sua plenitude, queremos que o comboio chegue até à fronteira", frisou Pedro Nuno Santos.
Só que "as obras não se fazem em um ou dois anos" e necessitam de vários estudos, projetos e a empreitada. "Infelizmente demora. É difícil recuperar de um atraso de 40 anos na ferrovia em pouco tempo". Por isso, sublinhou que o primeiro passo para avançar com o investimento é "ter os estudos prévios e o projeto feito". O objetivo do Governo é "lançar o concurso no primeiro trimestre de 2023".
No futuro vai ser sensibilizado o governo espanhol para que reabra a sua parte da linha, também desativada há décadas, para permitir a ligação entre o Porto e Salamanca. Mas Pedro Nuno Santos não quer saltar etapas. Para já, é preciso "fazer o que depende dos portugueses".
4724 empregos deverão ser criados durante o "período de exploração do projeto (26 anos)", o que corresponde a "uma média de 181 por ano", na "hotelaria, restauração, comércio e atividades recreativas e culturais", refere o estudo de viabilidade.
Benefícios estimados
A "melhoria da mobilidade, da qualidade ambiental e da redução da sinistralidade" vai ter um impacto de "28,4 milhões de euros". O impacto no PIB de toda a fileira do turismo representará "55,8 milhões de euros".
"Finalmente vemos uma luz ao fundo do túnel. Temos de acreditar na palavra do ministro. Agora tem de ser honrada"
Carlos Condesso
Presidente da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo
"Vai ser corrigida uma injustiça que existe para com o Douro. Espero que os espanhóis façam a ligação a Salamanca"
José Gonçalves
Presidente da Câmara da Régua
"Acredito que este processo já não pára e que dentro de meia dúzia de anos estaremos a participar na inauguração"
Carlos Silva Santiago
Presidente da CIM Douro