Área da moda registou quebras de 99% em abril. Tecnologia, farmácia e alimentação escaparam à pandemia.
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Da restauração à moda, a pandemia da covid-19 trouxe perdas de faturação elevadas à maioria dos setores de atividade em Braga e os primeiros dois meses de desconfinamento ainda não chegaram para normalizar as contas. Tendo por base os dados das transações por multibanco cedidos pela SIBS à Associação Comercial de Braga (ACB), entre março e junho, houve uma quebra geral de 20% nas vendas, que resultou em menos 200 milhões de euros para os comerciantes do concelho, em relação ao mesmo período do ano passado. As áreas da tecnologia, farmácia e da alimentação foram exceções e cresceram nos últimos quatro meses.
Pelas ruas do Centro Histórico já andam muitos locais e até alguns turistas e emigrantes, mas os comerciantes dizem que o movimento não se está a refletir num aumento substancial de vendas. "Não se vê a retoma. A faturação está a um terço. O ano passado, durante a tarde, estava aqui com mais duas colegas, cheias de trabalho. Agora estou sozinha e à espera de clientes", desabafa Ana Machado, funcionária de uma loja de produtos turísticos, perto da Praça do Município.
Na Rua Dr. Gonçalo Sampaio, ao lado do Theatro Circo, Catarina Conde fala em quebras de 30 a 40% nas vendas, em relação ao mesmo período do último ano. Quando reabriu a sua loja de roupa depois do confinamento, a 4 de maio, baixou os preços para despachar a coleção de inverno. Agora, mantém "preços mais baixos" para atrair clientes e poder investir em novas coleções.
De acordo com os dados da SIBS, o setor da moda e acessórios foi um dos mais prejudicados com a pandemia. Em abril, registou uma quebra de 99% na faturação e, apesar das melhorias, em junho ainda apresentou perdas de 44% em relação ao mesmo mês do ano passado. "A moda é um setor que trabalha por estação. A coleção primavera/verão ainda está quase toda dentro de armazém e os empresários precisam de fazer compras para a próxima estação, mas não têm liquidez", constata o diretor-geral da ACB, Rui Marques, sublinhando que alguns comerciantes têm fornecedores estrangeiros que não permitem pagamentos "a 30 ou 60 dias".
Iniciativas
Em contraciclo, os negócios ligados às tecnologias atingiram um pico de crescimento em junho, com um aumento de 89% na faturação, em relação ao mesmo período do ano passado. As farmácias tiveram o melhor mês em março, com um crescimento de 36% nas vendas. No mesmo mês, as mercearias e minimercados registaram o dobro dos ganhos de 2019.
Para minimizar os impactos da crise pandémica, a ACB já começou a lançar iniciativas para "gerar tráfego na rua". Algumas delas estão vocacionadas para a restauração, que também continua a registar perdas na ordem dos 40%.
Investimento
Ana Paula Ferreira tem negócios na área da ourivesaria há 33 anos e confessa que, nos períodos de crise, os seus produtos costumam sair mais valorizados, nomeadamente o ouro. Com loja na Praça do Município, esta empresária diz que não sentiu as carteiras dos clientes mais vazias, assim que reabriu portas, após o confinamento.
"Ter uma peça de ouro voltou a ser visto como um luxo. É um artigo que valoriza nas crises, as pessoas estão a apostar no ouro e nas pedras preciosas como um investimento", explica, admitindo que esperava "maiores dificuldades" que acabaram por não se verificar. "Tenho uma carteira de clientes de 30 e tal anos", contabiliza, lembrando que apenas abriu portas quase 15 dias depois da autorização do Governo, para que os seus clientes se pudessem adaptar às medidas de segurança.