É uma das consequências boas da pandemia. Quando o mundo ficou virado do avesso, com toda a gente confinada, a Escola Básica do Padrão da Légua, em Matosinhos, criou uma rádio com o intuito de manter o contacto entre adultos e crianças. E o que começou por ser um complemento às ações pedagógicas depressa se transformou num veículo de integração, em particular da comunidade cigana.
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Perderam a timidez perante os microfones, aprenderam a ouvir os outros, passaram a ler e a escrever melhor. Na Rádio Padrão, agora a entrar no terceiro ano de existência, são os alunos (e já não os professores, como inicialmente) a escolher os temas e a preparar os programas, sejam noticiários, radionovelas ou entrevistas. Também foram eles a fazer os logótipos do projeto.
"Os meninos melhoraram muito as suas competências. A rádio trouxe benefícios para todos", diz ao JN Albina Ribeiro, coordenadora da escola localizada junto ao Bairro do Seixo. E logo acrescenta: "Os alunos de etnia cigana são os que apresentam mais dificuldades em técnica de leitura e na escrita e, com a rádio, isso vai melhorando". Por outro lado, "sentem-se mais integrados e gostam mais de ir à escola". Como resultado, faltam menos e, quando faltam, até dão uma justificação.
Segundo a responsável, um dos objetivos a breve prazo "é fazer um estúdio" e instalar colunas nos corredores, para se ouvir a rádio na própria escola. Mas, enquanto isso não acontece, os programas são divulgados por podcast: ao aceder ao site do agrupamento, entra-se no separador "escolas" e escolhe-se a Básica do Padrão.
Logo que foi possível, os alunos regressaram ao modo presencial e agora as turmas trabalham em conjunto, com todas as crianças (desde o primeiro ao quarto ano) envolvidas nas diferentes etapas do processo. Sempre com a ajuda de professores e de formadores artísticos.
O JN assistiu a uma assembleia em que estavam a preparar a entrevista a uma personalidade do concelho de Matosinhos. No caso, o vereador responsável pelo pelouro da Educação, Correia Pinto, que no final do mês irá à Escola Básica do Padrão para satisfazer a curiosidade destes miúdos, no âmbito do programa "Olha Quem Fala".
A rádio faz parte de um projeto mais amplo de integração pedagógica, em que a escola conta com o apoio da Autarquia, da Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos e da Universidade do Porto, através de Daniela Ferreira, investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.
"A ideia de termos um estúdio físico é também para envolvermos os alunos no processo de edição dos programas", refere Daniela Ferreira, também mentora da rádio. Acrescenta que este ano, pela primeira vez, os miúdos do ensino pré-escolar também aderiram.
A investigadora conclui que a rádio "surgiu como tentativa de chegar a todos os meninos durante a pandemia" e já contribuiu para "reverter um pouco o que era a perda de alunos".
"O que mais gosto de fazer é cantar músicas de Natal, das Janeiras e essas coisas. Não é difícil, porque ensaiamos primeiro", afirmou Artur Nascimento, de oito anos. "Gosto de fazer novelas. É fixe, porque assim os nossos pais conseguem ouvir-nos e ficam felizes", referiu, por sua vez, Leonor Sá, também de oito anos. "Eu gosto de falar para a rádio, porque aprendemos muitas coisas novas, como cantar e desenhar os logótipos", explicou Nicole Maia, da mesma idade.