Como vencer o fogo na Lousã: "Há momentos em que não temos medo de morrer"
Olhos fechados, é apenas agosto. Cheira a figos, as vespas zumbem, mas não se ouvem os pássaros. Está calor. À sombra da figueira verde-ilusão, no centro de Cabanões, tudo o mais que a vista alcança é um castanho-desilusão que alastra entre os 3500 hectares ardidos na serra da Lousã.
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"Isto foi aqui um pandemónio", desabafa Agostinho Alves, nascido em Cabanões, feito homem à beira-mar, na Figueira da Foz, onde fez vida de trabalho até regressar à serra da Lousã onde nasceu. "Foi um ciclone que passou por aqui", diz, apontando a um olival "todo partido pelo fogo" nas imediações da casa.
As lágrimas e palavras embrulham-se: as primeiras reprimidas, as segundas sem saberem como se expressar. "Foi aqui o inferno. Se eles não têm cá ficado ardia tudo", diz Agostinho Alves, apontando com a cabeça ao cimo da costeira, à porta de casa de Maria de Fátima. "Os bombeiros só vieram à noite, depois de tudo estar apagado", lamenta, agradecido aos cunhados que lhe salvaram a casa.