"São muito, muito cautelosos. Muito mais do que imaginei. Há quase dois meses que andam todos de máscara", explica Daniela Azevedo.
Corpo do artigo
É funcionária da pastelaria "Virgen del Valle", um dos poucos negócios portugueses na zona industrial da Varziela, em Vila do Conde. Ali, onde vivem e trabalham mais de 1500 chineses, não há um único caso de Covid-19. Para Daniela, a explicação está na prevenção.
É o maior centro empresarial chinês, com mais de 200 armazéns. São quase todos provenientes da província de Zhejiang, no litoral, a mais de 900 quilómetros de Wuhan, o epicentro da pandemia. "No início de março, fecharam todos", diz Daniela, que, neste momento, tem, na padaria, "5% do movimento habitual".
Ruas desertas
Numa volta pelas ruas, percebe-se o que dizia a jovem: desertas! Os poucos que se veem só trazem os olhos de fora. Nas portas, em português e em chinês, letreiros a anunciar o fecho por tempo indeterminado.
Só à porta do Supermercado Chen, no número 73 da Rua 7, se vê uma pequena fila. Todos de máscara, distância de segurança. À porta, atrás de um balcão virado para a rua, o dono recebe os pedidos. Regressa à loja, faz as compras e entrega. Ninguém entra.
"Tínhamos um conhecimento melhor da situação na China e prevenimo-nos. Para nós, usar máscara é "normal" e as nossas lojas e armazéns fecharam antes do início do estado de emergência", diz o presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, acrescentando ainda que, habituados a acatar as ordens do Governo, os chineses têm sido "muito rigorosos no cumprimento do isolamento".
Talvez por isso, explica, entre os 35 mil chineses que estima viverem em Portugal, entre legais e ilegais, há apenas um caso de Covid-19 e "a China nem sequer surge na lista de casos importados da Direção-Geral da Saúde (DGS)".
Santa Casa é foco
A 12 de março, um dia antes do fecho das escolas, Vila do Conde fechou teatros, piscinas e pavilhões. A Câmara manteve ainda a feira semanal de dia 13 (ao ar livre), e o mercado, ao contrário do que aconteceu em muitos municípios, continua a funcionar. Os cemitérios só fecharam a 3 de abril.
Há desinfeção diária de ruas e praças, mas as imagens da marginal cheia de gente, na manhã de 22 de março, obrigaram a medidas. Agora, ao fim de semana, o trânsito está cortado junto ao Forte de S. João e há polícia alerta.
Dia 24, quando surgiram os primeiros dados concelhios, Vila do Conde tinha oito infetados. Parte deles eram utentes do lar de Cavalões, em Famalicão, um dos primeiros grandes focos da doença na região. Mas, em cinco dias, os casos quadruplicaram. A 28 de março, uma idosa testou positivo à Covid-19 no lar da terceira idade da Santa Casa da Misericórdia.
No Centro de Apoio e Reabilitação de Pessoas com Deficiência (CARPD) de Touguinha, há pelo menos 99 pessoas infetadas. São 83 utentes e 16 funcionários só no CARPD, embora os dados da DGS registassem, ontem, apenas 86 casos em todo o concelho. Faltam ainda sair 27 resultados. Estão quase todos assintomáticos, mas a situação preocupa e muito e pode fazer disparar ainda mais os números no concelho.
Pormenores
Estamos Aqui - O "Estamos Aqui" é o novo programa da Câmara que pretende unir quem precisa de ajuda e quem quer ajudar. Há duas linhas: uma para apoio social 252 248 400, outra para apoio psicológico 252 248 477.
Número verde - Pequenas compras, ir à farmácia, levar o lixo ou passear o cão? O Banco de Ajudas da Junta de Freguesia de Vila do Conde angaria voluntários e recebe os pedidos de quem não pode sair de casa. Há um número gratuito: 800 910 894.
Rendas suspensas - A Câmara suspendeu o pagamento de rendas nas habitações sociais em abril, maio e junho. O valor será pago em 18 prestações sem juros. Até junho não serão cobradas rendas em lojas e lugares em mercados e feiras.
Emergência Social - O teto máximo de apoio através do Fundo de Emergência Social subiu de 500 para mil euros por agregado familiar e deixam de vigorar os dois anos de carência. Há ainda 250 mil euros disponíveis para que juntas e IPSS adquiram material de proteção individual.
Máscaras oferecidas - A Câmara de Vila do Conde recebeu três entregas solidárias da comunidade chinesa, num total de 7500 máscaras.