Cinco mil textos enviados para a competição popular que o JN organiza há 88 anos.
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Começou sem grandes esperanças de vingar e hoje é o mais antigo concurso da Imprensa nacional. A competição por um dos prémios das Quadras de S. João do Jornal de Notícias realiza-se há 88 anos, ininterruptamente, e recebe cada vez mais participantes. "Há três anos tivemos três mil, no ano passado os números rondaram as quatro mil e neste ano chegaram-nos cinco mil quadras", afirma Germano Silva, jornalista, historiador da cidade e coordenador do concurso.
A ideia da salutar competição surgiu pelo jornalista Álvaro Machado, antigo chefe de Redação do JN. Germano Silva ainda o conheceu. "Ele dizia que quando ia para a noite de S. João se cruzava com ranchos de rapazes e raparigas que vinham dos bairros e que cantavam músicas, muitas improvisadas. E fazia-lhe impressão que essa riqueza folclórica espontânea do povo se perdesse. Por isso, teve a ideia de fazer um concurso de quadras no JN".
Na altura, o jornalista não julgou que a iniciativa tivesse tanto impacto: "Ele estava convencido de que se faria a primeira, a segunda e talvez até uma terceira edição, mas que depois se acabava. Porém, aconteceu exatamente o contrário", explica Germano Silva. "O normal seria que uma iniciativa destas, que se realiza desde 1929, começasse a esmorecer, mas a verdade é que todos os anos ganha cada vez mais vitalidade", diz o historiador.
As quadras, escritas à mão e à máquina por pessoas de todas as idades, chegam de todo o lado. Até do estrangeiro. Algo que o júri deteta pelo discurso. Há os que falam do saudosismo dos tempos idos, os que se doem pelos problemas da juventude e os que padecem com a distância ditada pela emigração.
Mas nem todos cumprem as regras. É preciso haver métrica, rima e, muito importante, incluir os motivos são-joaninos.
"É um concurso único na cidade. Uma iniciativa exclusivamente são-joanina", afirma Germano Silva. O historiador lamenta que a iniciativa, "enaltecida" pelas mais variadas entidades, continue fora do programa oficial das festas de S. João da cidade, a cargo da empresa municipal Porto Lazer. Um programa que contempla "uma panóplia de realizações que, na maior parte das vezes, não têm nada a ver com o S. João", critica Germano Silva.
"Valorização cultural"
O júri deste ano, composto por Germano Silva, pelo sociólogo João Teixeira Lopes, e pelo poeta e teólogo José Alberto de Oliveira, vai escolher, entre milhares de quadras, as 12 premiadas e as 50 merecedoras de menção honrosa.
Sobre o concurso que já foi alvo de teses de mestrado, Germano Silva frisa o facto de haver "valorização cultural". "A maior parte dos concorrentes pega em temas atuais".
O resultado é divulgado na edição de S. João do JN, no dia 24.