Construtor de Viana do Castelo confirma tendência de ir buscas mão de obra ao Interior. A AICCOPN pede medidas para suprir problema, sugerindo a criação de regime excecional de mobilidade transnacional.
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Cláudio Costa, CEO da empresa de construção civil Baltor, de Viana do Castelo, reuniu anteontem com o departamento de orçamentos, com os dossiês das obras para 2020 em cima da mesa. E a proveniência da maioria das solicitações retrata uma realidade que o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), Manuel Campos, dá como certa: "Existe um aumento do peso das obras licenciadas nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa".
O trabalho das empresas portuguesas estará a concentrar-se nesses dois polos, em detrimento do restante território, num cenário de "falta de mão de obra" a que urge dar resposta com medidas concretas. Uma delas é a criação de "um regime excecional de mobilidade transnacional", que permita colocar "trabalhadores estrangeiros ao serviço das empresas nacionais".
"Neste momento, 63% das propostas que estamos a estudar são para Lisboa. Temos cerca de 17% de obras para o Porto e o resto é em Viana do Castelo", afirma Cláudio Costa, comentando que o grosso das obras da Baltor atualmente é "habitação logística e de luxo" para privados naquelas duas cidades. Na região do Alto Minho, a empresa, com sede em Viana, remodelou algumas escolas e tem atualmente na mira "uma obra emblemática", mas de resto opta por "recusar trabalho" fora dos filões do Porto e Lisboa.
Vistos Gold
Com 17 anos de experiência no setor, 15 ao serviço da DST (Braga), Cláudio Costa refere que esta realidade tornou-se notória há cerca de quatro anos, com "a chegada dos vistos Gold (autorizações de residência a investidores estrangeiros)". "O mercado imobiliário foi alavancado. Começou a haver grande fluxo de venda de imóveis, que gerou construção e, logo após uma crise, foi um eldorado. As empresas começaram a ir primeiro para Lisboa e depois também para o Porto"", diz o empresário, referindo que, face ao "sucesso das operações dos promotores imobiliários", criaram-se "massas de negócio" nos dois grandes centros que absorveram a maioria do setor. "Tornou-se mais fácil do que estar a olhar para zonas mais rurais, em que os projetos são muito ocasionais", argumenta, indicando como principais dificuldades a gestão à distância e a deslocalização por longos períodos de trabalhadores. "No Minho, temos muita gente deslocada e temos de arrendar apartamento. Ao fim de algum tempo, as pessoas cansam-se e querem voltar para casa", diz, acrescentando que também aquela firma está afetada pela falta de mão de obra. "É um problema transversal a todas as empresas do setor", refere.
Face ao crescimento exponencial de obras em Lisboa e no Porto, Manuel Campos, da AICCOPN, concluiu que estes "evidenciam uma realidade que é a maior dinâmica das duas principais cidades que, no caso da reabilitação urbana, é ainda mais pronunciada, relativamente ao resto do país e, sobretudo, ao Interior". Preconiza, de resto, "uma evolução positiva" este ano para o setor, que já em 2019 registou uma variação ascendente "de 6%, o valor mais elevado dos últimos 21 anos".