Cria caracóis em Paredes de Coura para abastecer restaurantes de Lisboa

João Gomes, 43 anos, serralheiro de profissão, dedica as horas vagas à produção de caracóis (caracoletas) em Mozelos, Paredes de Coura, e estima na próxima primavera vender cerca de cinco toneladas para restaurantes da zona Centro. Se o desconfinamento não vier a tempo de fazer florescer o mercado da restauração, prepara-se para enveredar pelo setor das conservas.

"Este ano, estamos na incógnita sobre se o mercado vai abrir ou não. No ano passado, foi difícil, o preço baixou para dois euros (a média é 3,5 euros)", diz o produtor, referindo: "Se não correr bem nos restaurantes, vamos apostar nas conversas e na exportação".

A produção da "Couracol" começou em 2018 com 600 mil caracóis e um investimento de 230 mil euros, financiado a 60% a fundo perdido por fundos comunitários. A próxima produção deverá estar pronta a comer "em abril ou maio".

Cinco toneladas

"No ano passado, vendi cerca de cinco toneladas e meia. A maior parte foi para Lisboa", afirma João Gomes, referindo que a comercialização do seu produto é feita através de um intermediário para restaurantes. "Já vendi para França e Itália, mas este ano será só em Portugal. A zona Centro consome bastante. Em Paredes de Coura não vendo nada. As pessoas não estão habituadas", conta.

O ciclo de produção começa com a reprodução na "maternidade", como chama ao espaço com luz artificial que destinou para o efeito. Ali, os caracóis reproduzem-se e põem os ovos, que depois ficam enterrados até eclodirem. Segue-se a fase "da engorda" em estufa, onde é plantada colza (couve-nabiça), até os caracóis atingirem o tamanho desejado. Antes de saírem para o mercado, passam pela "purga" e são hibernados em frio. O ciclo, que dura "cerca de quatro meses", é trabalhoso.

"Na fase de crescimento, vimos todos os dias alimentá-los com farinhas e a apanha é feita manualmente, um a um", descreve o produtor, que conta com ajuda dos pais e da mulher para poupar nos custos de mão de obra. Mesmo assim, vê-se obrigado "a contratar mais duas ou três pessoas" para a colheita.

João, diz-se apaixonado pela helicicultura. "Gosto disto. É uma descarga. Venho para aqui e não penso em mais nada. Até hoje, não me arrependi", conclui.

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Hermafrodita

Os caracóis são hermafroditas. Por reprodução, cada um põe "entre 100 a 120 ovos", que juntos formam uma espécie de "bola de pingue-pongue", que fica enterrada em vasos até eclodirem.

20 a 25 gramas

É o peso ideal para o "escargot", tão apreciado pelos franceses. Nessa altura, "está maduro e adulto" e um dos sinais é "um rebordo revirado e branco".

3,5 euros o quilo

João Gomes entende que "a rentabilidade podia ser melhor". Vende a entre 3 e 3,5 euros por quilo, mas no mercado custa entre seis e sete euros.