Entre gravar medalhas a laser, estampar camisolas e embrulhar com desvelo cada uma das encomendas, Daniela não tem mãos a medir. Desdobra-se ao ritmo dos pedidos que a aproximação do Natal multiplicou. Tudo para ajudar a pagar as terapias do irmão, Filipe Ferreira, o jovem de Avintes (Gaia) que todos conhecem como Pipinho e cuja doença rara - a síndrome de Norrie - não o deixa andar, ver ou falar.
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É tudo personalizado, para todas as idades e gostos: as medalhas podem ser gravadas com o nome que se pretender e as "sweatshirts" são estampadas, em vinil têxtil, com a imagem escolhida - desde temas natalícios a desenhos alusivos a clubes desportivos. E há as luminárias em acrílico, também com gravações personalizadas feitas pela irmã de Filipe.
Daniela espreita a lista de encomendas para avançar com a próxima: uma medalha em forma de coração que grava com o nome pedido, num pequeno aparelho a laser. Depois, há que embrulhar para enviar pelo correio. "Aqui, é sempre a andar. É de segunda a segunda, sem folgas e sem horários definidos", sorri a jovem de 21 anos, enquanto se aplica num embrulho cuidado que há de seguir para o destinatário com um autocolante de Natal.
As encomendas são feitas através da página de Facebook solidária "Todos juntos pelo Filipe Ferreira", onde há fotos dos artigos, e é possível escolher conjuntos para adulto ou criança. "Temos a box infantil, com a "sweatshirt" e marcadores têxteis, porque achamos que seria mais engraçado as crianças desenharem [a própria camisola], e um copo que muda de cor consoante a temperatura da bebida. E também temos para adulto, com a "sweatshirt", o copo e um crachá", explica Daniela.
"O feedback tem sido muito positivo. Ao comprar uma coisa, as pessoas levam sempre um miminho. É a nossa forma de agradecer a solidariedade", diz a irmã de Pipinho, que aprendeu as técnicas de gravação e estampagem com a mãe, Mara, obrigada a parar devido a uma grave depressão, com a qual ainda luta. Entretanto, a família vai fazendo face às despesas graças a donativos e à recolha de sucata.
O SONHO DE ABRIR UMA LOJA SOLIDÁRIA
Depois de recuperar da depressão, Mara quer voltar a trabalhar ao lado da filha, para poder fazer face às despesas com as terapias intensivas de Filipe - são dois mil euros por mês, num orçamento que conta apenas com pouco mais de 700 euros do ordenado do marido, Nelson -, e alimenta um sonho: abrir uma loja solidária, "para poder vender ao público e ajudar o Filipe". Mas, para isso, precisa da ajuda de "alguém ou alguma entidade que possa ceder um espaço". "Não dá para pagar rendas, porque o objetivo é mesmo angariar dinheiro para as terapias", lembra Mara Ferreira, que é cuidadora do filho desde que ele nasceu, há 17 anos.