Entre as salas de cinema que existiam no interior do concelho de Gaia, só a de Sandim continua de pé, embora fechada. O seu proprietário, Joaquim Ferreira Lopes, de 82 anos e o mais antigo a exibir filmes no país, quer reabrir o espaço. Pediu apoio à Autarquia e Eduardo Vítor Rodrigues prometeu estudar o assunto.
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"O cinema foi e é a minha ilusão", diz Joaquim, a pensar no passado e a projetar o futuro, sentado num dos 321 lugares do seu anfiteatro, por agora vazio, mas que podia encher com sessões para escolas, por exemplo. Assim como o Cinema Sandim, também o Estrela, em Coimbrões, o Almeida e Sousa, em Avintes, e o Floresta, em Lever, tiveram tempos áureos. Era a época em que as fitas indianas e de cowboys esgotavam a bilheteira. Ia-se pelo cartaz, mas também para conviver. "Éramos onze e enchíamos uma fila. Mesmo que um de nós tivesse visto o filme, ia na mesma. Valia a camaradagem", lembra Bartolomeu Vaz, de 65 anos, a recordar a mocidade, quando era espectador assíduo das películas em Avintes.
Com o advento dos "shoppings" e as mudanças no circuito comercial, as alterações foram radicais. O Almeida e Sousa está entaipado, no Estrela funciona uma empresa de software e o Floresta é uma oficina. Outras opções, como o majestoso cinema em plena Avenida da República e o do Vilagaia, próximo das Devesas, desapareceram há muito da lista. As plateias do GaiaShopping e do Arrábida arrastam multidões, sendo a oferta complementada com matinés semanais nos equipamentos camarários Teatro Eduardo Brazão, em Valadares, e no Auditório, próximo da Biblioteca.
"Rambo" e "Rocky"
Quem entra no Cinema Sandim logo se depara com um gigante cartaz do filme de estreia, "Aprendiz do Diabo", com Burt Lancaster, Kirk Douglas e Laurence Olivier, tudo gente graúda de Hollywood. As portas abriram-se em 1961 e por ali passaram os maiores êxitos. Foram tantos que se torna difícil a Joaquim Lopes destacar um deles. Mas, os "Salteadores da Arca Perdida", de Spielberg, e o "Titanic", com DiCrapio, merecem um sublinhado, pelas incontáveis repetições.
A mota era o veículo mais comum e após o fim da sessão, no regresso às casas, a debandada "assemelhava-se a uma trovoada", segundo conta. A sala cobria um vasto território, entre Gaia e Espinho, e acolhia imenso público. Para ver os durões Rambo, Rocky e Chuck Norris pagava-se dois escudos. Na mente de Joaquim, o bichinho da sétima arte começou pela leitura do jornal "O Primeiro de Janeiro". Na adolescência, "quando tinha uns tostões", não perdia uma ida ao Águia de Ouro e ao Olímpia, entre outras salas que os novos hábitos foram aniquilando. A primeira máquina de projetar foi comprada na Rua Formosa, por "três contos de reis", e a ligação à atividade cinéfila perdura até hoje, tendo em quatro, dos seus cinco filhos, seguidores nestas lides.
No pedido formulado à Câmara de Gaia, para obras e voltar a dar vida ao robusto equipamento, com plateia, balcão e serviço de bar, onde não falta a máquina de fazer pipocas, reside a esperança de fazer regressar as estrelas à tela sandinense.
Centros comerciais
Filmes no Arrábida e GaiaShopping são sempre muito concorridos
Os centros comerciais, a par das grandes superfícies, são as catedrais do consumo. Têm tudo para captar visitantes: acessos, estacionamento, segurança e zonas de restauração. Os cinemas estão no pacote. Em Gaia, o UCI Arrábida e o Nos GaiaShopping atraem público do concelho, mas também dos municípios limítrofes. Em época de férias, nomeadamente as natalícias, que estão aí à porta, formam-se filas para comprar ingresso. E se o filme pretendido estiver esgotado, basta escolher outro do cardápio. As estreias, as pipocas e a diversidade de horários propiciam a excursão em família ou com amigos.