Uma derrocada de pedras para a linha ferroviária do Douro, anteontem, entre Foz-Tua e Pocinho, suspendeu a circulação de comboios por tempo indeterminado. A CP está a preparar um plano de transporte alternativo.
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Não são umas simples pedras. São pedregulhos de várias toneladas que se desprenderam da encosta granítica e foram parar à ferrovia, obstruindo-a por completo e danificando "entre vinte e trinta metros de linha", segundo adiantou, ao JN, o porta-voz da Refer, José Santos Lopes.
O responsável explicou que o desabamento "ficou a dever-se, seguramente, ao mau tempo" dos últimos dias e preferiu não arriscar uma data previsível para ser retomada a circulação naquele troço da linha do Douro, que liga as estações de comboios de Foz-Tua, em Carrazeda de Ansiães, e Pocinho, em Vila Nova de Foz Côa. "O prognóstico é reservado. Não temos qualquer previsão para a reabertura da via", precisou José Santos Lopes.
O incidente ocorreu ao início da manhã do dia de Natal, a cerca de três quilómetros da estação de Foz-Tua, numa zona de declive acentuado repleto de pedregulhos que a qualquer momento se podem desprender e ir parar ao rio Douro. De resto, já não é a primeira vez que tal situação acontece.
O maquinista do primeiro comboio da manhã de anteontem, que saiu do Pocinho às 6.57 horas com destino ao Porto, vislumbrou o impedimento da via a tempo de interromper a marcha em segurança e regressar ao ponto de partida. No sentido inverso os comboios tiveram de parar no Tua. "Nestes casos foi feito o transbordo dos passageiros em táxi", disse, ao JN, uma fonte oficial da CP. Explicou que após a ocorrência "não foram vendidos mais bilhetes com destino ao Pocinho, pelo que deixou de ser necessário utilizar qualquer transporte alternativo". Porém, acrescentou, "a CP esta já a estudar um plano de transportes rodoviários para implementar nos próximos dias" e enquanto a circulação de comboios não é reposta.
O único acesso por terra ao local é a própria linha férrea e as telecomunicações são muito fracas, quando não inexistentes. Se os responsáveis da Refer o tivessem autorizado a passar, Mário Pinto, residente em Foz-Tua, 79 anos, teria gostado de ver as pedras que obstruíram a linha do Douro. Mais de metade da vida passou-a como vizinho daquela ferrovia e este tipo de incidentes não lhe são estranhos.
Garante que "do Tua à Ferradosa está via é muito perigosa". E vai rebuscar às suas lembranças uma ocasião em que ele próprio circulava pela berma da linha e lhe pareceu ouvir um trovão. Estranhou, porque o céu o não denunciava. "Não era nada um trovão, era um calhau do tamanho de meia casa que tinha deslizado pela encosta. Foi a linha que pegou nele".
Sobre o desmoronamento de anteontem tem uma teoria: "O outro dia houve um tremor de terra, não houve? Olhe que isso mexe com tudo. Cá mal se sentiu, mas de certeza que abalou as rochas. Depois veio a chuva e, meu amigo, mandou aquilo cá p'ra baixo".