Tem 15 meses, um sorriso que encanta e um nome diferente: Luna Mariana. A bebé, que não estranha as fardas dos seus anjos-da-guarda, é um das dezenas de inquilinos provisórios que ocupam as instalações do Regimento de Guarnição 3 (RG3), no Funchal.
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E a sua história semelhante à maioria dos que ali estão, desalojados pela tempestade que varreu a Madeira anteontem. "Não podíamos continuar em casa", diz a mãe, Liliana Camacho, de 20 anos. Ela, a filha e o marido moravam na Estrada da Camacha, mais a mãe, Alexandra Alves, de 65 anos, e a tia, de 80. "Está um perigo, pode vir por aí abaixo a qualquer momento", alega Liliana. A mãe confirma: "A casa de banho desapareceu, e o resto ficou suspenso", diz. Assim, os três mais novos saíram logo no sábado, e para trás ficaram as mais velhas: a mais idosa recusava sair. Nova derrocada convenceu-a da urgência de partir. Pela manhã, juntaram-se à família no RG3, um dos vários pontos de acolhimento criados no Funchal para 250 desalojados.
Nas camaratas estavam ontem cerca de 70. O comandante interino, tenente-coronel Carlos Dionísio, garante, porém, ser "um número dinâmico, porque as pessoas vão entrando e saindo. Sempre que temos a informação - em articulação com a Protecção Civil - que as casas estão bem e as estradas transitáveis, procedemos ao realojamento", explica. "Mas", ressalva, "tal como há quem parta, outros chegam". Após o auxílio da Assistência Social, "as pessoas ficam em camaratas ou, nos casos mais frágeis, em quartos privados", diz o oficial, assegurando: "Tentamos providenciar o máximo de conforto". Que não será pouco, nas circunstâncias: "Aqui tratam-nos muito bem. E a Luna adora as fardas", garante Liliana. E Luna confirma, sorrindo ao colo do sargento Becker que sorri tanto como ela, num enelevo que faz esquecer, por instantes, a miséria que grassa ainda lá fora.