Maioria dos preços varia entre os 350 e os 750 euros, mas chegam aos 1500. Uma cama custa mais de 200 euros.
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"Procurar sítio para morar é tão difícil como encontrar uma agulha no palheiro". O desabafo é de Bárbara Borges, mas reflete a dificuldade de muitos que procuram fixar-se no Porto. Se as casas têm preços proibitivos, os quartos também estão a ser alugados por valores até há uns anos impensáveis (a maioria, entre os 350 e os 750 euros, mas há quem peça 1500). E mesmo para conseguir uma cama num quarto partilhado é preciso desembolsar centenas de euros.
"Os preços estão um absurdo!", desabafa Bárbara. A escalada dos preços abre portas aos arrendamentos ilegais e em espaços sem condições. Não é raro ver anúncios de divisões onde se encaixam vários beliches, e ainda assim com valores elevados.
Bárbara começou a procurar um quarto no Porto ainda no Brasil, quando soube que vinha estudar para a cidade. Mas arranjar um sítio para ficar revela-se uma missão quase impossível. No bolso trouxe 1700 euros. Enquanto procura por um quarto, está hospedada num hostel a pagar cerca de 25 euros por noite. Caso a situação se prolongue por um mês, vai desembolsar 750 euros. A jovem brasileira alerta, ainda, para outro problema: "Há muitos anúncios falsos e que não mostram a realidade. Já no Brasil eu lia os comentários a dizer que era golpe. As imagens eram muito perfeitas e valores sem nexo".
Sem esperança
Há quatro meses, Andrews Storque vivia o mesmo dilema de Bárbara. O estudante veio para o Porto em Erasmus e também não conseguia sítio para viver. A solução surgiu num grupo de Whatsapp. "Entrei em comunidades de pessoas que estavam na minha situação. E fiz uma amiga que ia sair do quarto onde estava. Acabei por entrar na vez dela", disse o jovem. Atualmente, partilha quarto com outra pessoa e paga 210 euros.
Mas o problema é transversal. Aos 32 anos, Elizabeth Cristina está a viver num espaço pequeno em Paranhos. Paga 400 euros. Considera que o cenário atual do mercado "desencoraja qualquer um" e que não há esperança, uma vez que "há rendas mais altas do que alguns salários".
E basta uma breve pesquisa em sites de arrendamento para perceber o fenómeno. Em média, o valor por um quarto na cidade varia entre os 350 e os 750 euros.
Mas há quem peça mais. Próximo ao Mercado do Bolhão, na Rua de Fernandes Tomás, há um quarto a mil euros. E aos potenciais inquilinos é exigida uma fiança de três meses.
O JN contactou o proprietário, para perceber se o valor tinha algum aconselhamento imobiliário, mas o interlocutor recusou-se a prestar declarações.
Condições precárias
Quem tenta fugir aos valores mais altos ou não tem alternativa acaba por sujeitar-se a condições instáveis, como pagar rendas sem contrato ou partilhar quarto.
Um quarto, quatro camas - esta é a oferta de um anúncio no Beco do Pedregulho, na zona de São Lázaro. Por cada cama, o inquilino paga 220 euros. Na Rua de Silva Tapada, o preço chega aos 290 euros: cinco quartos, 12 camas. À entrada, é exigida uma fiança de dois meses.
"A subdivisãoÆdas casas em quartos e dos quartos em camas é o resultado das políticas de habitação que potenciam a subida infinita das rendas, face à modesta subida nos salários", alerta o movimento Habitação Hoje!.
Segundo Alexandra Cachucho, da Associação dos Inquilinos e Condóminos no Norte, "as pessoas aceitam viver em condições precárias ou injustas porque não têm alternativas".