Antigos cafés emblemáticos de portas fechadas. Aviz despede, mas não sabe quanto mais poderá resistir. Associação pede ao Governo um pacote de apoios urgente.
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Lojas vazias, montras grafitadas e vandalizadas, hotéis e hostels fechados, pouca gente a circular nas ruas e desalento no rosto dos comerciantes à porta dos estabelecimentos. Na Baixa do Porto teme-se o pior neste Natal. Muitos confessam viver "apavorados", sem dinheiro para despesas básicas de funcionamento, como água e luz. Fazem-se despedimentos para se conseguir manter a porta aberta. A associação que os representa pede um pacote de medidas de apoio de emergência.
"Isto é um desespero. O turismo em massa secou o comércio. Houve muito deslumbramento, expulsaram os moradores do centro da cidade. Os turistas desapareceram e agora não mora aqui ninguém", afirma Paulo Almeida, sócio-gerente do Café Aviz, um dos históricos que resistem no quarteirão da Praça de D. Filipa de Lencastre, em plena Baixa portuense. O Café Ceuta encerrou há um ano. Esteve para reabrir em setembro, mas com a pandemia continua fechado. O Estrela d"Ouro, na Rua da Fábrica, está em degradação. Foi comprado por empresários italianos que querem transformar o edifício em mais um hotel, mas as obras não começaram.
"Somos os últimos"
O Estrela era gerido por Fernando e António Fortes. "Saiu-nos a sorte grande", confessa Fernando, referindo-se à transação feita antes da pandemia.
Do emblemático espaço ficam as recordações dos saraus de música e poesia. Foi ali, por exemplo, que Pedro Homem de Melo escreveu "Povo que lavas no rio", que seria um dos maiores sucessos de Amália Rodrigues.
"Somos os últimos, mas não sabemos por quanto tempo vamos resistir", diz, por sua vez, o sócio-gerente do Aviz, espaço que há um ano tinha 15 empregados - "muitas vezes não chegavam para o viravento de clientes" - e agora tem apenas cinco.
Com a sua fachada imponente, o Hotel Infante de Sagres, de cinco estrelas, está temporariamente encerrado. Por isso, anda menos gente a circular nas ruas. O Grande Hotel de Paris continua aberto, mas com forte baixa de reservas. Mesmo ao lado, no Mercado da Invicta, um espaço comercial partilhado por vários projetos, Isabel, Cristina e Elisabete olham pela montra para o exterior onde antes da pandemia "era um mar de gente a subir e a descer". Esperam contar com a "compreensão do senhorio" para manterem a loja a funcionar pelo menos até ao Natal.
autarca fala em "catástrofe"
"Muitas vezes o problema é esse. As rendas são altas e os senhorios não facilitam nada", considera Ana Ribeiro, gerente da Fábrica Oculista, onde as quebras rondam os 60%. O presidente da União de Freguesias do Centro Histórico, António Fonseca, fala em "catástrofe no tecido comercial" e o presidente da Associação dos Comerciantes do Porto pede que o Governo avance com um pacote urgente de apoios aos lojistas sob pena de se "perder a identidade das cidades, fator que atraiu os turistas ao nosso país". Para Joel Azevedo, "as medidas que condicionam a mobilidade são necessárias, mas afetam o comércio tradicional que merece ser agora devidamente apoiado para que sobreviva".