A especulação imobiliária e as altas rendas praticadas na Baixa e Centro Histórico do Porto está a causar danos no movimento associativo da cidade. Os sócios foram desaparecendo.
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Uns morreram, outros foram despejados das casas onde viviam. A falta do pagamento de quotas e de apoios financeiros levam, aliadas à dificuldade em se adaptarem aos tempos modernos, a que muitas das coletividades históricas estejam a passar por dificuldades e em vias de desaparecer. "A maior parte quando fecha é definitivamente", diz Henrique Ornelas, presidente da Associação das Coletividades do Concelho do Porto.
É na zona histórica que a situação começa a tornar-se mais preocupante. Os moradores vão escasseando e muitas das associações que ali se encontram instaladas à décadas deixam de ter atividade. Primeiro foram os jovens que foram desaparecendo, colocando fim às atividades desportivas e os mais velhos, que frequentavam os espaços para ali conversarem, jogarem às cartas ou verem televisão, são cada vez menos.
"O que acontece é que o espírito que existia do bairrismo está a desaparecer. Não é só o problema da renovação urbana e destas coletividades terem de abandonar o edifícios onde se encontram porque o senhorio quer fazer obras. A grande verdade é que o espírito que estava subjacente às coletividades deixou de existir porque a vizinhança que existe hoje já não é a mesma", considera António José Fonseca, presidente da União de Freguesias do Centro Histórico, onde o problema da sobrevivência das coletividades é mais sentido. É num dos edifícios desta junta de freguesia que está guardado o espólio do Clube Recreativo Nautilus da Fontinha que encerrou portas em janeiro do ano passado
Longe vão os tempos em que na coletividade se praticava futebol, andebol, ténis de mesa e dava-se formação. "Antigamente a Fontinha era um mundo, mas nos últimos anos começaram a faltar sócios e, depois, o dinheiro para pagar a renda, sobretudo quando a senhoria aumentou o valor", conta Alfredo Peres, um dos fundadores do clube, em 1975.
Dificuldades financeiras
O Nautilus junta-se à lista de outros desaparecidos: O Caras, o Reviera, Onara, Invicta, O Progresso e o Musical, o Ultramarino, FC Monsanto e o Clube Vitória, entre outros. "Muitos foram fechando ao longo dos anos ainda antes deste problema das rendas, dos despejos e da pressão imobiliária. Mas é verdade que a situação nunca foi tão complicada como agora. São muitas as dificuldades financeiras", aponta Henrique Ornelas que salienta o "grande apoio que os seus associados recebem também da Associação dos Inquilinos do Norte de Portugal".
Henrique Ornelas não desenha, no entanto, um futuro catastrófico para o movimento associativo. "Enquanto as coletivas mais antigas vão desaparecendo vão surgindo outras, com gente nova e ligadas às artes, à cultura e artesanato", refere o dirigente. E depois há também coletividades e associações que se encontram de boa saúde como o Clube Fenianos Portuenses, o Rancho do Douro Litoral, o Círculo Católico de Operários do Porto ou a Club Sportivo Nun"Álvares. O segredo, confessa António Moreira, presidente do Nun"Álvares, "é irmo-nos adaptando ao gosto dos associados". O Nun"Álvares está neste momento a realizar obras de ampliação.
Associação Gato Vadio encerra atividade a 31 de março
A Associação Cultural e Espaço de Intervenção Social - Saco de Gatos encerra a 31 de março, decidiram este domingo os sócios, em assembleia-extraordinária. A não renovação do contrato de arrendamento do espaço, na Rua do Rosário, no Porto, levou ao fim da livraria "Gato Vadio". "A Associação entende que não faz sentido existir noutro espaço", consideramos sócios, que lamentam a falta de uma "política séria e ativa de proteção dos habitantes, das associações e de outros atores da cidade que querem viver no centro, entre os turistas" por parte da Câmara Municipal.