Duas famílias foram esta quinta-feira alvo de despejo das casas camarárias onde viviam há mais de dez anos no bairro da Quinta do Mocho, em Loures. Uma mulher, que ali vivia com a filha de um ano na casa do tio, regressava da creche, onde deixou a bebé, e viu a porta trancada.
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No bairro camarário da Quinta do Mocho moram 768 pessoas em 91 edifícios.
O Movimento Vida Justa afirma que está em curso um grande programa de despejos, que abrange 200 famílias deste bairro e critica a autarquia de Loures por ter em marcha um “plano de expulsão dos mais pobres do concelho”. A autarquia, liderada por Ricardo Leão (PS), defende em comunicado que estão em causa dívidas avultadas e que foram propostas soluções de realojamento.
O Vida Justa, que denuncia casos de despejos sem alternativa de habitação em bairros degradados na Área Metropolitana de Lisboa, aponta para casos destes diários na Quinta do Mocho. Quarta-feira, uma moradora que tinha sido realojada no bairro, vinda do Prior Velho, há 10 anos ficou sem a casa onde vivia com mais três pessoas, suas dependentes.
Rendas atrasadas
António, 64 anos, diabético e hipertenso, também vivia há dez anos neste bairro com dois jovens e uma criança de um ano. Todos ficaram sem casa. O Vida Justa diz que há três anos a renda foi aumentada de 10 para 400 euros.
Em comunicado, a autarquia nega estarem “a ocorrer despejos em massa” e diz que “não existe qualquer programa de despejos diários”, mas refere estarem em curso 269 procedimentos administrativos de resolução de contrato de arrendamento municipal na Quinta do Mocho.
No documento, a Câmara esclarece que apenas desencadeia o processo de resolução contratual em casos de incumprimento objetivo e comprovado, como dívida de rendas superior a três meses, sem adesão a plano de pagamento, ocupação indevida, ausência de residência permanente e falta de entrega de documentação.