A companhia de teatro "O Teatrão", de Coimbra, apresentou nesta quarta-feira a programação para os primeiros três meses do ano, apesar de estar "numa situação limite", por falta de apoios, segundo a diretora, Isabel Craveiro. "Decidimos que não íamos baixar os braços", afirmou.
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Uma das propostas é a peça "Dom Quixote (de Coimbra)", em reposição na Oficina Municipal de Teatro de 25 de fevereiro a 19 de março. O espetáculo - o mais visto da história do Teatrão - estreou-se em 2009 e agora será atualizado.
Em fevereiro e março haverá também "uma intervenção no espaço público", com voluntários da companhia nas ruas, na pele de "Cavaleiros andantes".
"Quixote está relacionado com a necessidade de utopia na nossa vida. Quixote é aquele que sonha acordado. A nossa ideia de inundar a cidade de D. Quixotes tem a ver com isso: fazer uma provocação às pessoas e dizer que sonhar é fundamental", explicou Isabel Craveiro.
"Além de serem engraçados, [Quixote e Sancho Pança] encerram esta ideia trágico-cómica da vida, de que temos de ver para além do que é o dia a dia. Isso, para nós, também é muito importante", prosseguiu a diretora da companhia.
De pé e expectante face às mudanças políticas
Uma programação centrada na reposição de espetáculos realizados no passado, bem como no serviço educativo, é a forma que o Teatrão encontra de lidar com as dificuldades do presente. "Isto é uma estratégia para nos mantermos de pé", reconheceu Isabel Craveiro.
Recorde-se que, em junho passado, a companhia, com mais de 20 anos de atividade, viu-se obrigada a despedir funcionários e a cancelar parte da programação, por terem sido rejeitadas as suas candidaturas a apoios da Direção-Geral das Artes. Entretanto, perdeu técnicos, atores e pessoas responsáveis pela comunicação.
Neste momento, e face às "mudanças no espetro político" ("Agora há um Ministério [da Cultura]"), os elementos da companhia estão "expectantes", referiu Isabel Craveiro. "Esperamos que seja muita coisa alterada, nomeadamente, o orçamento."
Por agora, o Teatrão prepara mais candidaturas a concursos, aguardando ainda a abertura do programa de fundos estruturais Portugal 2020 para candidatar o projeto "Artéria", que agrupa dez municípios da região Centro, e cuja coordenação está a seu cargo.
Voltando à programação: o espetáculo "Há tempo para tudo", que se estreou no ano passado, no âmbito do serviço pedagógico, está a ser retrabalhado e andará em digressão por Soure, Mira e Figueira da Foz, além de Coimbra (em jardins de infância e escolas primárias).
Outra sugestão é a peça "Contra a parede 5x por semana", com encenação de António Fonseca. Trata-se de uma co-produção com a Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), em cena de 21 a 30 deste mês, para desafiar o espetador a refletir "sobre o tempo presente".
Ao abrigo do serviço educativo, há a assinalar um trabalho pedagógico com utentes de Instituições Particulares de Solidariedade Social, um programa de formação intergeracional, com escolas e lares de idosos de Mira e Soure, e ainda a terceira edição do projeto "Bando à parte", de formação artística em teatro, música e dança, com jovens de contextos desfavorecidos e em situação de abandono escolar.