Dois anos depois do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) ter concluído que o Edifício Transparente, no Porto, apresenta anomalias que "envolvem um risco que pode provocar danos contra a saúde e a segurança das pessoas", nenhuma intervenção de monta foi feita.
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O relatório do LNEC reportava "anomalias" no sistema de segurança contra incêndios e na caixilharia, chamando a atenção para a "degradação dos materiais de vedação" e para a "fixação dos vidros".
Apesar dos alertas, a situação mantém-se inalterada. Com uma diferença: o edifício passou a ter sentença de demolição, no âmbito próximo Plano da Orla Costeira Caminha-Espinho. Faz parte de uma lista de 34 imóveis cuja demolição é defendida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Atualmente, no Transparente há vários espaços vazios e a concessionária não estará a renovar contratos com os lojistas.
O JN tentou, sem sucesso, ouvir a empresa. Também contactamos a Câmara do Porto, proprietária, sobre o facto da Administração não estar a renovar os contratos, tendo a Autarquia remetido esclarecimentos para o Ministério do Ambiente, que não quis pronunciar-se. Já sobre as obras de manutenção, o Município não respondeu.
Concluída em 2001, a construção do Edifício Transparente custou 7,5 milhões de euros. A sua reconversão, em 2007, custou mais cerca de 15 milhões.
Quem diariamente trabalha no Edifício Transparente não acredita que o imóvel seja para demolir, recusando aceitar que o equipamento seja prejudicial para a orla costeira. José Carneiro Ferreira, com três restaurantes no imóvel construído no âmbito da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, não entende "como é que o edifício prejudica a costa" e sentencia: "A demolição, a acontecer, tem mais a ver com interesses políticos".
O responsável da loja de bicicletas Bike Zone, que preferiu não se identificar, também não acredita na demolição: "Já desde 2003 que ouço que o Edifício Transparente vem abaixo". "Uma coisa é certa, o que faço é tão bom, que o negócio sobrevive aqui como noutro sítio", salvaguardou.
"Ninguém dá a cara"
O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, disse no início deste ano que o Edifício Transparente só será para demolir depois de 2024, após o termo da atual concessão.
Ainda que ninguém assuma o receio de manter um negócio num espaço que tem os dias contados, quem por ali passa repara que existem já muitas lojas fechadas.
José Carneiro Ferreira contou que, "das três lojas que tem alugadas, duas têm o contratos a acabar em maio do próximo ano e a Administração já avisou, por carta, que não os pretende renovar". O mesmo "tem acontecido a outros lojistas", acrescentou.
O comerciante referiu que "é dos poucos que ainda paga as rendas (7500 euros por mês dos três espaços comerciais)" e lamenta o facto de "não haver ninguém que dê a cara pelo edifício", cuja concessão está a cargo da Hottrade.
Cronologia
2001
O Edifício Transparente foi construído no âmbito do projeto de extensão do Parque da Cidade.
2003
A empresa Hottrade venceu o concurso de concessão.
2007
Em novembro, o Edifício Transparente abriu ao público, depois de vários anos sem uma função atribuída. Foi alvo de uma adaptação a cargo do arquiteto Carlos Prata.
2016
A decisão de vender o edifício surgiu este ano, face ao estado de degradação do edifício e à impossibilidade do concessionário fazer as obras necessárias.
2017
De acordo com um relatório do LNEC, o edifício padece de várias patalogias graves. Neste ano, a Câmara levou o edifício a leilão com um valor-base de 7,96 milhões de euros. Não houve licitações.
2018
A Câmara do Porto desistiu de vender o imóvel quando percebeu que estava na lista dos espaços a demolir.