"Faz falta os vizinhos de sempre..." Ele preferia estar ali. E está, em boa verdade, durante o dia em dias de baixa. "São 39 anos", quase todos os dele, que aterrou na torre 4 com a família da Ribeira tinha ele oito meses. Mas, "a história disto, toda a gente sabe... Vale é muito dinheiro".
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É de uma das 138 famílias realojados longe do Aleixo. Não dá o nome, ou a cara. Já teve problemas por dá-la, como a irmã, que foi manifestar-se para a Câmara, em 2001, e "perdeu a casa". A burocracia há de explicar. Baixa o olhar. "Em Lordelo". Foi lá que escolheu realojar-se, a dois passos dali, o rio à vista, ainda que por uma nesga.
"Tenho de ser sincero, fui para melhor". Pelo ambiente, pelo sossego para os filhos. Está sossegado como a vida à volta da casa nova. Como a maioria dos que encontrámos perto da esventrada torre 4. Sentam-se nas bancas do falecido mercado, à porta da "rulote" do Caetano, transformado em café há anos. "Lá não há um café, nada". Outro está em Ramalde há dois meses, ar conformado. "Que podemos dizer, vamos para uma casa toda pintada, por fora mete nojo, mas lá dentro é novo...", quase parece desculpar-se pela constatação.
É um facto. Já não se sente a revolta de dezembro de 2011. Houve dois incêndios no devoluto prédio desde que ficou assim, esquelético. Só isso. "Muito mais calmo do que da outra vez", sussurraram-nos, esta semana no estaleiro de engenharia que por ali se preparava. E hoje também. O drama será evitado pelo esvaziamento total das áreas comuns do bairro. E pela perspetiva de autoproteção dos moradores. "Já se mentalizaram", diz Julieta, funcionária do lar de dia. Vem todos os dias da Pasteleira Nova e, lá, "está pior". E ali, diz Nélson - emigrado há quatro anos de Gaia, cinco cães de porte pela mão - não é o que sempre ouviu dizer.
Ou não...
"Quem é que disse que estamos mentalizados. Não, não! estamos nada mentalizados" Maria, 77 anos, foi passar esta noite a casa da nora. Vive na segunda torre, a mais conservada, e tem futuro assegurado por um par de anos, a acreditar na lentidão da implosão do Aleixo.
Só ela é que diz que não. Que não sai, porque da Ribeira ali foram oito décadas junto à água, esse lugar que Rui Rio lhe quer resgatar. E que não quer ver, hoje, o horizonte dela estender-se. "Fiquei maluquinha da outra vez, fiquei muito mal".