
A família Marques voltou a sofrer os efeitos nefastos do fogo
Foto: Carlos Carneiro
"A gente trabalha uma vida para quê?", pergunta-se Eufémia Azevedo, de 64 anos, enquanto vê o fogo a destruir-lhe, uma vez mais, o trabalho de uma vida. Há cerca de dez anos, o campo de cultivo da família Marques, em Melres, ficou totalmente destruído. Hoje, o fogo voltou a ameaçar o trabalho daquela família e chegou mesmo a roubar-lhes uma parte do trabalho.
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Ao longe ouvem-se as aeronaves que sobrevoam as localidades de Vilarinho e Moreira, na freguesia de Melres, em Gondomar, com o intuito de apagar o fogo que teima em fugir mato fora. O incêndio, que começou em Penafiel, rapidamente se alastrou até Melres e consumiu uma parte "considerável de floresta".

Foto: Carlos Carneiro
Rodrigo e Leonor vivem no Porto, mas rumaram ontem a casa dos avós para os ajudarem a proteger os terrenos da família. "Já há duas noites que não se dorme. Anteontem, viemos para aqui às quatro da manhã porque começou a ficar muito vento. Eu e os meus avós viemos cá cima, demos a volta, mas não se passava nada. De manhã, quando chegamos aqui já estava a arder", conta Rodrigo Machado, de 16 anos.

Foto: Carlos Carneiro
Os campos de trigo arderam e um carro que tinham na propriedade também. A meio da tarde desta quinta-feira, os tratores, os geradores, a lenha e os anexos que lá têm ainda estavam intactos. O lugar "é mais do que uma casa" para a família Marques. O avô, José, pouco conseguia falar ao ver o fogo que cada vez se aproximava mais. Junto da mulher, Eufémia, dos netos, da filha e do genro rezavam para que o incêndio não descesse encosta abaixo. Um dos outros terrenos que têm na localidade do lado também fora destruído.

Foto: Carlos Carneiro
Uns metros mais lado, o fogo corria em direção a casa de Modesto Silva. Emigrado na Suíça, Modesto veio a Portugal descansar uns dias. Contudo, as noites foram passadas em branco e os planos que tinha foram cancelados. Nos últimos dois dias, as férias resumiram-se a vigiar a propriedade.

Foto: Carlos Carneiro
"Ainda bem que vim, senão depois ia estar lá num sofrimento. Estou farto disto", afirmou Modesto, enquanto se preparava para combater as chamas que estavam a chegar. A experiência de ter sido bombeiro voluntário ajudou a manter a calma e a saber quando atuar.

Foto: Carlos Carneiro

