Há 100 anos que não havia um padre filho da terra. António regressou para a sua primeira missa e o arraial foi como nunca se viu. Com regras de saúde e exceções como foguetório.
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A covid-19 não impediu que a freguesia de Covide, em Terras do Bouro, celebrasse ontem a primeira missa do padre António Paulo Pereira, de 24 anos. O novo sacerdote, nascido e criado em Santa Marinha de Covide, voltou à terra na Serra do Gerês para comemorar com os amigos e a família a ordenação sacerdotal. "Não há memória de um padre natural de Covide e, penso que, há mais de 100 anos que não há nenhuma festa como esta", disse ao JN o padre Marcelo Correia, pároco local.
A alegria e a emoção era bem visível por baixo das máscaras das mais de 300 pessoas que, de pé ou sentadas em cadeiras colocadas num campo coberto com toldes, rezaram e cantaram fazendo a festa, que contou com foguetes excecionalmente autorizados.
Ao início da tarde, uma charanga composta por músicos amadores percorreu a freguesia a anunciar a festa ao som de cantigas tradicionais portuguesas ao mesmo tempo que tapetes de flores cobriam o percurso por onde iria passar o novo padre.
"Não sei se mereço tanto", referiu o novo sacerdote, lamentado que, "por causa da pandemia", não tenha podido ter consigo todas as pessoas que desejava.
Até a igreja foi restaurada
Seguindo as instruções da Direção-Geral da Saúde e da Câmara de Terras Bouro, houve festa rija na freguesia que tem pouco mais de 300 habitantes, maioritariamente idosos, e que foi pouco afetada pela pandemia. "A localidade é grande, a densidade populacional é que é pouca", disse Domingos Fujaco, o presidente da junta de Covide.
Para celebrar a festa do padre "filho da terra", mecenas, paróquia e câmara municipal juntaram 60 mil euros para restaurar a igreja local. Com capacidade para poucas pessoas, o templo apenas foi usado como sacristia pelos sacerdotes e a missa foi celebrada num palco ao ar livre.
Também por causa da doença com nome semelhante ao nome da freguesia, a festa minhota não terminou com um jantar. Em vez de mesas fartas, houve fartura de comida mas espalhada por vários locais para evitar aglomerações. "Temos que nos adaptar", referiu o padre Marcelo Correia, um dos organizadores da iniciativa.
Se a covid ajudar, daqui a um ano, talvez haja nova comemoração já sem máscaras e com menos regras. Até lá, a festa possível foi com porco no espeto e ao som dos instrumentos tocados pelos músicos da charanga.
Produção
Adro
Um campo agrícola localizado junto à igreja foi arranjado e coberto para receber todos os que quiseram participar na Missa Nova. Com distância de segurança e ao livre, foi a forma encontrada pela paróquia para, na pandemia, poder albergar as pessoas que não cabem na pequena igreja.
Charanga
Reavivando um costume antigo, os músicos da localidade, independentemente do instrumento que tocam, juntaram-se para percorrer os caminhos de Covide.
Foguetes
Localizada no Parque Nacional do Gerês, Covide tem regras especiais para a preservação da floresta. Ontem, apesar do tempo cinzento, foram lançados foguetes em vários locais e em horas distintas. A freguesia pediu autorização à Câmara de Terras do Bouro e aos bombeiros para lançar as "girândolas de fogo".
Porco no espeto
Sem possibilidade de fazer um jantar de festa, a solução encontrada pelo grupo que organiza a festa foi recorrer ao porco no espeto. Sem mesas e sem cadeiras, os convidados percorreram vários postos de abastecimento para comer e beber.
População
343 habitantes tinha a freguesia de Covide, segundo os últimos censos de 2011. A localidade na Serra do Gerês tem vindo a perder população e atualmente tem cerca de 300 moradores.